A Páscoa é a Festa das festas. Ela nos interpela e nos ajuda a abrir nossas inteligências e nossos corações. Mas para perceber tudo isso, precisamos resgatar o silêncio do corpo e da mente; e, assim, desenvolver humildade e amor. A este ponto, é justo nos perguntar se tal silêncio é uma ausência da palavra, um total deserto. E se tal palavra é usada como instrumento de conhecimento e não de fofoca ou à toa. Hoje reconhecemos que estamos mergulhados em rios de palavras; diria quase que embriagados por elas. Estamos contagiados, como dizia o famoso filósofo Martin Heidegger, pela banalização da linguagem. É interessante observar o grande paradoxo que, nessa época de tanta informação e transmissão de dados pela explosão tecnológica, praticamente veio a faltar àquela famosa comunicação que tanto peço todos os dias.
Por isso, lanço a pergunta: qual a diferença entre comunicação e transmissão de mensagem? Você pode notar que quem transmite, geralmente, é unilateral, unidirecional, não gera inter-relação entre quem comunica e quem recebe; impede uma relação direta, imediata. Concretamente, envia mensagens desconhecendo os destinatários. Ao contrário, na comunicação, o comunicador desenvolve uma participação ativa tanto em emitir algo quanto em receber.
Comunicar quer dizer não somente informar, trocar, codificar ou decodificar, mas realizar uma relação dialógica que favoreça as partes envolvidas. Então, onde o silêncio se encaixa, na transmissão ou na comunicação? É evidente que ele é parte integrante da comunicação e, por sinal, de certa forma, o determina. Por isso, no final das contas, no que consiste a história da vida dos seres humanos senão um contínuo confrontar-se com o silêncio? Thomas Merton declarou o seguinte: "O espírito do mundo, que é egoísmo, inveja, concupiscência, luxúria e terror faz barulhentos os homens por temor do mesmo vazio deles". Deus age no silêncio, não no barulhento clamor das pessoas. Podemos também dizer que as formas de silêncio são formas de diálogo.
O silêncio contém o êxodo e a redenção da palavra ao mesmo tempo. Pelo silêncio, surgem genialidades de vida, expressões artísticas e simbólicas. É ele que nos ilumina até nos momentos mais difíceis. Segundo André Neher, estudioso do hebraísmo contemporâneo, o ser humano fica calado porque "o silêncio lhe oferece uma prodigiosa variedade de chaves" para se
defrontar com o próprio limite humano. Ao final, o silêncio está dentro de nós através da capacidade de saber escutar e compreender. A propósito disso, sabemos que Mahatma Gandhi costumava fazer jejum, periodicamente, não somente de alimentos, mas também de palavras. E o fazia como forma de total purificação em abandonar aquela negatividade que, a partir da mente, intoxica o nosso espírito, levando-nos, constantemente, a produzir juízos e prejuízos em relação do próximo, sem nunca avaliar o próprio eu.
A partir daquele sepulcro vazio (de Jesus Cristo) é que encontramos o silêncio da vida. Porque não é suficiente olhar para achar, é preciso discernir os vazios da nossa vida para compreender os "além" da nossa materialidade. A Páscoa de Jesus é uma aula de vida no silêncio. Daí nós percebemos que a verdadeira realidade pertence àquele silêncio; o resto nos induz à ilusão e vaidades. Então, se for assim, temos que aprender a frequentar o silêncio, se quisermos acessar à Palavra que nos inspira e nos dá sopro de vida. Tanto é verdade que, se a palavra não fosse plasmada pelo silêncio, não teríamos poesia, tanto menos expressões artísticas. Precisamos viver essa Páscoa no profundo do nosso silêncio, para poder abrir os nossos horizontes de vida.
Fazendo isso, nós não estamos fugindo de nós mesmos, mas, pelo contrário, nós nos encontramos. Sim, porque ele, o silêncio, nos ajuda a curar as dilacerações interiores do nosso espírito. Quando Maria Madalena encontrou o sepulcro vazio, sem o corpo de Jesus, ficou com medo e correu logo para avisar os apóstolos. Isso mostra como o ser humano sabe perceber, imediatamente, o que é material. Nesse caso, dá menos medo encontrar o corpo morto, porque faz parte do cotidiano. No entanto, fazer outra experiência, inédita de vida, nos ameaça. Não temos capacidade de ir além desse cotidiano. Creio, portanto, que o silêncio nos pode ajudar a descobrir a grandeza e a maravilha da nossa vida. Quem pode penetrá-la senão a dimensão do silêncio? Consequentemente, podemos dizer que isto não nos ameaça, não dá medo, mas nos ajuda a produzir plena comunicação. E quem consegue comunicar pode ter mais capacidades de abrir novos rumos de vida. Concluindo, gostaria de desejar que cada um, através do silêncio da Páscoa do Nosso Senhor Jesus, saiba escutar e discernir a realidade como um todo. Feliz Páscoa!
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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