É a maior inflação dos últimos anos. Não há como esconder. As pessoas não são economistas, mas sabem dirigir um carrinho de supermercado. Olham os preços nas prateleiras e procuram produtos semelhantes com preço compatível com o salário. Os postos de gasolina em todo o país mostram que os combustíveis estão cada dia mais caros e que os preços flutuam. O governo procura se isentar da culpa e atribui a crise à conjuntura mundial. Afinal, o mundo todo sofre com a alta dos preços e acontecimentos inesperados com a Guerra da Ucrânia e a pandemia do Covid-19, que desestabilizaram a economia. A circulação das commodities está cada vez mais restrita com o bloqueio dos portos e a ameaça de uma fome geral no mundo com a queda das exportações de trigo. A inflação dos últimos 12 meses supera 8% e azeda a relação entre governo e cidadãos. Ela está agora numa máxima de vários anos, com poucas evidências de que atingiu o pico. Na mídia, principalmente nas redes sociais, há uma verdadeira batalha de versões e críticos e apoiadores do governo tentam impor os seus pontos de vistas. O fato é que os índices de aprovação do governo caem como mostram as pesquisas divulgadas diariamente. Nunca um presidente foi tão mal avaliado em tão pouco tempo como o atual.
O Banco Central jogou a toalha e a única coisa que faz é aumentar a taxa de juros. Com isso, o financiamento fica mais caro e as pessoas desistem de entrar em dívidas com medo de não poderem pagá-las. O que a autoridade monetária espera é que, com a diminuição da procura, haja uma queda dos preços, arrefecendo a inflação de demanda. O avanço da inflação está concentrado em alimentos e energia, mas o efeito sobre outros núcleos também não é desprezível. Os analistas dos mercados antecipam que na próxima reunião do Banco Central vai ocorrer mais uma alta na taxa de juros de 0,5%. A questão é se os juros vão parar por aí ou se vão continuar subindo. O impacto no mercado de renda variável é claro, com as bolsas em forte queda, enquanto o rendimento dos títulos públicos de dois anos superou a máxima desde 2008. Os investidores mundiais não sabem onde correr com seus capitais que se acumulam nos bancos, temerosos de perdas como na crise anterior. A recessão é uma possibilidade concreta e as filas dos que procuram emprego são cada vez maiores. Os discursos presidenciais são frágeis e demonstram falta de liderança a ponto de a população não dar importância a eles. Um falastrão, dizem os opositores. É evidente que o chefe do Poder Executivo perde sua base de sustentação política e o exemplo mais claro é a dificuldade que o governo tem para aprovar propostas no Congresso Nacional.
A gritaria é geral no setor de comércio, o mais afetado com a retração das vendas. Dados divulgados neste mês mostram que há uma disparada do dólar e com isso os produtos importados ficam ainda mais caros. Os geopolíticos criticam o governo e o responsabilizam por colocar a economia do país nas mãos dos chineses. O regime ditatorial chinês estanca a exportação de peças e insumos que alimentam a cadeia mundial de produção. A falta de chips e semicondutores leva empresas a suspender a produção e é inevitável a demissão de milhares de empregados. Estes não têm outra saída senão apelar para o auxílio desemprego. A oposição critica o presidente e o rotula como um político de estatura frágil e até se duvida de sua sanidade mental. Joe Biden explica como pode o aumento da inflação – culpa a guerra da Ucrânia e os preços do petróleo impostos pelo cartel da OPEP. Os democratas começam a mostrar insatisfação com o candidato que ajudaram a eleger, enfrentando o político republicano Donald Trump. A crise americana influi até na política externa dos Estados Unidos: até tentaram convencer a Venezuela a aumentar sua produção de petróleo para acalmar os mercados, em uma reviravolta de 180 graus, e buscaram se aproximar do presidente brasileiro a quem criticaram asperamente na campanha eleitoral que venceu. A todos repete a frase lapidar do ex-presidente da França, Charles de Gaulle: países não têm amigos, têm interesses!
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP
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