A parcela final das nossas informações de hábito de consumo estaria exposta.
No último livro dos autores de
Freakonomics, Levitt propõe um novo modelo de eleições, onde seria possível
mais de um voto por eleitor, mas cada um com um custo diferente. Iniciando por
um dólar por voto e os seguintes sendo o valor do anterior mais um elevado ao
quadrado. Ou seja, o primeiro voto custaria um dólar, o segundo quatro, o
terceiro 25, o quarto 676, o quinto 458.379 e assim por diante.
A lógica do economista era registrar,
não só a escolha, mas também o empenho e importância da opção, que ficaria
registrado no quanto cada eleitor se disporia a investir para ter o resultado
desejado nos votos. Ou seja, o valor despendido em uma escolha é um registro
adicional sobre o motivo da escolha, reforçando que nossos gastos falam sobre
nós. Não é à toa que existe a expressão “siga o dinheiro” usada pelos
investigadores.
Ter o controle sobre quanto cada
pessoa gasta é um sonho para qualquer governo, pois funciona como uma base de
informação relativa à vida privada. Estas informações estão, em parte,
disponíveis nos registros dos gastos em cartões de crédito e das movimentações
bancárias realizadas; porém uma imensa parcela permanece uma incógnita por serem
gastos feitos em dinheiro vivo.
Toda a informalidade, que suporta
grande parte da nossa economia, segue o gasto realizado em dinheiro,
permanecendo intocável pelo controle governamental. Sendo, por exemplo, um dos
únicos meios de evitar ter sua renda abocanhada por tributos como a extinta
CPMF.
Agora imagine se o governo criasse um
meio de substituir todas as transações em dinheiro por outra opção. Quanto de
informação adicional ele teria sobre cada um de nós. Será que isso seria usado
a nosso favor?
Pense, são exatamente aqueles que
fazem mais uso da opção do dinheiro como meio de pagamento que são os mais
frágeis e indefesos frente a saga arrecadadora do Estado. Demandas inelásticas
como a por alimentos possuem maior participação percentual nos gastos dos
pobres que no dos ricos, tendo um peso muito maior elevar o tributo sobre esses
itens para essa parcela da economia que para outras.
Com conhecimento sobre o padrão de
gastos dos mais pobres, quanta criatividade seria possível ao governo para
atingi-los? Não é à toa que a plataforma PIX foi criada pelo Banco Central, não
por uma empresa privada ou uma fintech.
O PIX é lindo. Uma solução engenhosa
e atrativa, mas ele vai colocar em xeque toda a nossa possibilidade de
privacidade. A parcela final das nossas informações de hábito de consumo
estaria exposta.
Imagine aquele valor que você
despende mas prefere não registrar, a ajuda que dá a alguém que não quer que
figure como doação, o uso livre que faz da sua renda, que é apenas problema
seu... com o PIX imperando, você terá que dizer adeus a tudo isso.
No fim, num mundo capitalista, aquilo
que você é se reflete no que você gasta. Ter essa informação completa e total
dará poder a outrem de saber mais sobre você do que você mesmo.
Fonte: Christiano Sobral é diretor-executivo
do escritório Urbano Vitalino Advogados, especializado em marketing, economia e
negócios - Assessoria - (News Rondônia.com.br).
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