Getúlio Vargas (à direita), na inauguração do Entreposto Federal de Pesca, no Rio de Janeiro
O sonho de dez entre nove governantes é se perenizar no poder. Uma vez tendo chegado ao topo não se contenta em cumprir o mandato que lhe foi atribuído pelo voto. Quer ficar o mais possível e para isso usa de toda as jogadas e artimanhas possíveis. Um mandato de apenas 4 anos, como foram eleitos todos os presidentes anteriores, não lhe é suficiente. Coloca-se como o mentor e executor de uma nova política para o Brasil, e o tema é a modernização do Estado e da sociedade. Há insatisfação nos grupos regionais e no segmento militar de como as políticas públicas têm sido tratadas. O argumento é que tudo o que se fez até agora tem uma base constitucional e para isso é preciso suspender a constituição. Há inúmeros exemplos no mundo e chefes que ou ignoram a lei ou redigem uma nova, de acordo com os seus ditames. É o preço que se paga para enterrar o velho e desgastado liberalismo e inaugurar uma nova era, com ampla participação do Estado na economia e um dirigismo estatal de acordo com os novos tempos. Os modelos são inúmeros mas o denominador comum é a perenidade e a centralização do poder o mais possível. Democratas de toda ordem assistem as mudanças temerosos e boquiabertos ante as manifestações populares de apoio ao governante.
A nova toada não é a reeleição pura e simplesmente. Nem a volta ao poder depois de um mandato através do voto popular. O que se quer para transformar o Brasil um governo forte, capaz de quebrar a espinha das velhas oligarquias e liderar o proletariado que se forma nas grandes cidades. O crescimento do operariado é um novo componente na estrutura do poder e para isso é preciso novas leis que garantam um mínimo de direito do trabalho, ainda que não chegue até o trabalhador rural. Este, disperso por todo o país, não tem a mesma força de pressão dos grupos de operários. Há quem enxergue nessas mudanças um acirramento da luta de classes registradas na Europa e nos Estados Unidos e que perigosamente possa ameaçar o sistema capitalista nacional. Para um trabalho tão amplo é necessário muito tempo, talvez uns 15 anos. Afinal outros líderes centralizadores estão no poder há mais tempo e nem por isso conseguiram levar suas nações a uma liderança no mundo. Os modelos à disposição estão tanto à esquerda como à direita do espectro político ainda que as justificativas sejam totalmente antagônicas.
Getúlio Vargas governa por 15 anos, a maior parte deles sob uma ditadura que tinha ampla identificação com os movimentos da extrema direita europeia. A sustentação política tem elementos internos e externos. A ameaça comunista, a redenção da classe trabalhadora, o nacionalismo exaltado, o culto à personalidade, a aliança populista com as classes sociais, a domesticação dos sindicatos se constituíram em pilares internos. Externamente a eclosão da II Guerra Mundial, a participação dos Estados Unidos e o afundamento de navios brasileiros completaram o poder do ditador. Contudo não é preciso violar a constituição e implantar uma ditadura para ficar tanto tempo no poder. Ela chega ao poder para cumprir um mandato de 4 anos, que pode terminar a qualquer momento uma vez que vive em uma república parlamentar. O êxito de seu governo a habilita para um segundo, terceiro e quarto mandatos. Total 15 anos de democracia, empenho, transparência, liberdade de expressão e apoio à questões nacionais e mundiais. Angela Merkel primeira ministra da República da Alemanha. Uma oradora moderadamente talentosa, não gosta de estar cercada pela multidão. Seu jeito sóbrio, pragmático e modesto conquista a muitos. Caso contrário não estaria hoje à frente do seu quarto governo, diz a DW.
Fonte: • Heródoto Barbeiro é âncora do Jornal da Record News o primeiro em multiplataforma.
Um comentário:
Merkel tem sido um exemplo de que ditadura, de qualquer viés ideológico, é noviva a nação.
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