O salmo 137 das Sagradas Escrituras inicia assim: “Eu vos louvarei de todo o coração, Senhor, porque ouvistes as minhas palavras.” Este hino convoca todo mundo para agradecer. E a tradição judaica o atribui ao rei Davi. É interessante reconhecer nessa proclamação o quanto é determinante na vida do fiel o agradecimento. O canto se desenvolve em três tempos. No primeiro, com os versículos de 1 a 3, o fiel manifesta o seu agradecimento no templo de Sião ao Senhor: “Ante vosso santo templo irei prostrar-me, e louvarei o vosso nome...” O autor do salmo exprime total certeza que Deus e o seu amor são uma presença efetiva e afetiva na vida dos justos.
Deus não fica indiferente à súplica do fiel, quando se encontra nas ameaças e perigos da vida. E, por isso, o salmo reza: “Quando vos invoquei, vós me respondestes; fizestes crescer a força de minha alma.” Essa certeza é tão forte que mostra como essa ajuda de Deus repercute com toda a sua potência na vida toda da pessoa. Onde a vida é submetida a duras provas e perdeu a esperança aí Deus se faz presente, soprando o dom da vida.
No segundo tempo, o salmista, perante essa atitude de gratidão, imagina uma espécie de reação geral: todos os reis do planeta se unem ao justo em um louvor cósmico em honra ao soberano Senhor do Universo: “Verdadeiramente, grande é a glória do Senhor!”. Essa profissão de fé é uma característica da profecia, presente no Dêutero-Isaias das Sagradas Escrituras, quando fizeram o retorno do exílio do país de Babilônia, no século VI a.C. Porém, essa celebração da gloriosidade de Deus não termina nisso, mas revela também como Ele olha para o humilde com carinho e, no entanto, olha do alto para baixo, com desprezo, o soberbo: “Sim, excelso é o Senhor, mas olha os pequeninos, enquanto seu olhar perscruta os soberbos.”
E assim chegamos ao terceiro tempo em que o olhar universal deixa o lugar ao louvor pessoal do fiel: “Em meio à adversidade vós me conservais a vida, estendeis a mão contra a cólera de meus inimigos.” Com essa perspectiva, o fiel discerne o futuro e implora ajuda perante as ameaças dos inimigos. Tudo isso é narrado com o estilo assim chamado ‘semítico’, isto é, as adversidades são demonstradas bem concretamente na ‘ira’ dos inimigos. Assim sendo, o fiel não desanima, porque tem a certeza que o Senhor, juiz da história, fará justiça pra ele e será salvo. E o salmo termina dizendo: “O Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, eterna é a vossa bondade: não abandoneis a obra de vossas mãos."
Uma verdadeira profissão de confiança no Deus da história. Ele não se esquece da ‘obra de suas mãos’, obra-prima de seu amor e proximidade. E o papa Francisco falou na Audiência Geral de 17.04.2019: “Possamos acolher que Deus é amor. Quantas vezes O imaginamos patrão e não Pai, juiz severo ao invés de Salvador misericordioso! Mas Deus na Páscoa cancela as distâncias, mostrando-se na humildade de um amor que pede o nosso amor. ”
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote doutor em teologia / Belém-PA.
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