quinta-feira, 18 de julho de 2019

DEUS NOS FALA

Lucas 10, 38-42

A Palavra de Deus indica, nesse trecho do Evangelho, a caminhada de Jesus e seus discípulos para a grande Jerusalém. No meio do caminho, o Mestre entra sozinho num povoado onde, certa mulher, de nome Marta, o acolhe. Em aramaico ‘Marta’ quer dizer ‘a senhora’, a ‘patroa da casa’, isto é, que a casa é dela própria. Além de Marta, tem uma irmã de nome Maria que assume a típica atitude do discípulo, isto é, sentou-se aos pés do Senhor para ouvir a sua Palavra.

Veja bem: naquele tempo de Jesus, o judaísmo não permitia que uma mulher fizesse parte de uma escola. Era exclusividade dos homens. Jesus, enviado do Pai, revoluciona a religião daquele tempo e mostra que o discipulado é para todos. Escutar a Palavra de Deus e segui-La não é patrimônio para alguns. Portanto, vimos que Marta O acolhe e Maria O escuta. Duas dimensões importantes para seguir Jesus. A presença do Mestre estimula Marta a fazer o que de melhor podia.

A sua ansiedade em ‘fazer’ ofuscou a sua atenção em ouvi-Lo. Não foi capaz, na prática, relacionar o serviço com a escuta. Ela foi brilhante em acolhê-Lo, mas a prejudicou pela demasiada preocupação ‘com muitos afazeres’. Assim sendo, tanto o serviço da mesa quanto o serviço da Palavra são importantes, mas todos precisam convergir no serviço da escuta. Portanto, não existe uma vocação cristã mais importante que a outras. Às vezes, ouço que a vocação dos contemplativos seja a mais difícil e, por conseguinte, a mais perfeita.

Não é nada disso. Todas as vocações são nobres, excelentes, porém, repito, devem sempre se relacionar no serviço da escuta. Lembro-me, quando jovem seminarista, eu fazia experiência vocacional com os monges cartuxos. Esta ordem religiosa é conhecida como aquela que professa maior austeridade no modo de vida dos seus membros e é caracterizada, exclusivamente, pela oração e contemplação. Então, o monge Tarcísio, que me acompanhava, chegou a me dizer, visto que tinha decidido a ser missionário, que minha vocação era mais difícil que a sua, porque na vocação missionária é preciso convergir tanto o serviço da atividade quanto o serviço da contemplação.

As duas dimensões não podem se excluir. Pelo contrário, devem se relacionar. Uma pequena observação: quando Jesus chama, por duas vezes em seguida, o nome ou um termo, tem sempre um sentido de repreensão. Por isso alerta Marta e, consequentemente, também nós.

O grande perigo para todos nós, cristãos, é o hiperativismo, que nos pode isolar e afastar de uma efetiva experiência de Deus na comunidade. E, às vezes, essas preocupações materiais chegam a ser consideradas como serviço de fé. O evangelista Lucas quer nos convidar para dar prioridade à Palavra de Deus e a sua escuta. E daí que perceberemos como o nosso Senhor nos acompanha no nosso cotidiano. Tudo isso alicerça a ação do serviço aos outros. A essa altura, eu te pergunto: até que ponto se deixa atrair para conhecer melhor a bíblia?

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote e doutor em teologia.



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