O salmo 141 das Sagradas Escrituras descreve uma oração bem pessoal. O pedido de súplica é caracterizado, no início do salmo, por cinco verbos: “brado, imploro, exponho a minha angústia, ponho a minha inquietação, meu espírito desfalece”. Logo em seguida o autor do hino apresenta a verdadeira súplica do fiel pelos versículos de 4a a 8a: “Vós conheceis o meu caminho. Na senda em que ando, ocultaram-me um laço. Olho para a direita e vejo: não há ninguém que cuide de mim. Não existe para mim um refúgio, ninguém que se interesse pela minha vida. Eu vos chamo, Senhor, vós sois meu refúgio, meu quinhão na terra dos vivos. Atendei ao meu clamor, porque estou numa extrema miséria. Livrai-me daqueles que me perseguem, porque são mais fortes do que eu. Tirai-me desta prisão, para que possa agradecer ao vosso nome.”
Perante essa libertação dos violentos inimigos, o fiel termina com esta glorificação: “Os justos virão rodear-me, quando me tiverdes feito este benefício.” O autor do salmo focaliza de maneira bem evidente esta intimidade com Deus, o seu refúgio. O fiel sente dentro de si essa grande confiança e segurança no Senhor da vida. É, sim, porque Deus conhece e perscruta o caminho e o destino de sua vida e, portanto, nunca vai abandona-lo.
Com isto, porém, o mau nunca fica satisfeito em ameaçar o justo e, por isso, irá sempre preparar: “a senda em que ando, ocultaram-me um laço”, uma imagem de caça que efetivamente representa os ímpetos e os perigos do justo. E daí se compreende o porque do grito do fiel a Deus para defende-lo, já que parece distraído e não preocupado com a situação desoladora em que se encontra o justo.
Numa situação tão alarmante não poupa forças para apelar ao Senhor; é Ele a sua vida. E na oração proclama com firmeza: “ninguém que se interesse pela minha vida.” O desespero da dramaticidade humana não tem limites. O olhar da direita do suplicante é totalmente vazia. O que significa ‘direita’? No sentido oriental, a direita de uma pessoa quer dizer que estava o defensor em um tribunal ou a testemunha em seu favor, ou também se fosse em guerra o guarda-costas.
Todos os amigos sumiram e, assim, o justo-fiel experimenta o grande abandono e o profundo silêncio. O deserto da vida. Daí se entende porque o grito desesperador do fiel ao seu Deus. Agora aqui quando fala de fortuna ou parcela é típica indicação bíblica para definir a posse da terra prometida.
O autor do salmo tem toda a certeza que o Senhor irá arrebentar as algemas do justo e o libertará da prisão. Assim sendo, a esperança se torna a verdadeira protagonista, podendo sonhar a liberdade e participar liturgicamente no Templo louvando e agradecendo pela presença protetora de Deus. O papa Francisco falou no Ângelus do dia 13.08.2017: “A fé nos dá a segurança de uma presença que nos impulsiona a superar os contratempos existenciais, a certeza de uma mão que nos socorre para nos ajudar a enfrentar as dificuldades, indicando-nos o caminho mesmo na escuridão.”
Fonte: Claudio Pighin / Sacerdote e doutor em teologia - Belém/PA.
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