Fala-se muito de fraternidade, mas, na verdade, por aquilo que estamos assistindo no cenário social, político e religioso, parece uma utopia. Uma coisa é certa: o desejo é grande. O problema é como realiza-lo. Sempre se deixando orientar pela Sagrada Escritura, através do Salmo 132 (133), que descreve a peregrinação à cidade santa, Jerusalém, onde mostra a alegria de se encontrar juntos no Templo, perante Deus, assim exulta esse momento fraterno: “Cântico das peregrinações. Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. É como um óleo suave derramado sobre a fronte, e que desce para a barba, a barba de Aarão, para correr em seguida até a orla de seu manto. É como o orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião; pois ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna.”
Esse trecho da Palavra de Deus exalta o amor fraterno, revelando-o sagrado e, para fazer isso, faz a comparação como o do óleo que consagrou Aarão. A descrição desse óleo, que desce grudando-se na barba até chegar ao manto, nos mostra quanto é importante estarmos juntos, vivermos a fraternidade, bem unidos. De fato, se formos analisar atentamente, como podemos dizer que queremos ser fraternos estando longe um do outro? É a proximidade, tanto ideológica quanto existencial, que nos permite compartilhar a nossa unidade. O salmista revela essa vitalidade também com a comparação do orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião. Tudo isso é como uma bênção eterna. Também o evangelista Mateus evoca essa unidade: “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18, 20)
A fraternidade que nasce inspirada por Deus, na participação do Templo, constrói uma comunidade viva e eficaz, que permite eliminar qualquer obstáculo de divisão e preconceitos. Estarmos juntos como irmãos. A respeito disso, encontramos também nos Atos dos Apóstolos (2, 42-46) que confirma essa verdade: “Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em todos os corações. Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. Unidos de coração, frequentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração.”
Portanto, podemos entender que a graça de Deus une as pessoas e lhes favorece a vivência da fraternidade. Com as próprias forças parece que se torna difícil praticarmos essa comunhão. Uma realidade, essa da fraternidade, desafiadora e que o ser humano sozinho não é capaz. Justamente o Salmo afirma que é como o orvalho que desce do céu. Nesse sentido, quando a Igreja nos convoca a celebrar a ‘Campanha da Fraternidade’ é como pedir para Deus que essa graça esteja entre nós, porque com as nossas forças não teremos a força. De fato, quando estamos simplesmente juntos, sem a iluminação e orientação de Deus, tudo se torna mais difícil: é pesado estarmos juntos. E assim não teremos condições de abençoar. Quem vive na fraternidade terá capacidade de abençoar. Onde existe a desunião será complicado abençoar. Tudo isso tem a ver com a nossa sociedade. Viver juntos, poderíamos dizer, é um ensaio do futuro da mesma humanidade. Um futuro que o ser humano não construiu, mas que Deus, mesmo Deus, nos garantiu. E para melhor entender tudo isso é melhor viver a Fraternidade, obra do Altíssimo, desde já. Somente assim as gerações acreditarão.
A Fraternidade, nessa perspectiva, é uma manifestação da graça do Senhor. Vivermos cristãos unidos é reconhecermos a presença da graça de nosso Senhor. É evidente que vivermos juntos comporta também sacrifícios e suportações. No final, requer penitência, mas penitência no sentido evangélico, isto é vivermos juntos precisa a plena e a continua disponibilidade ao sacrifício. Assim sendo, penitência não quer dizer sofrimento e peso, no entanto, a mudança de mentalidade que o mesmo Jesus Cristo nos pede. Vivermos a fraternidade é a total inclinação a se questionar sempre para acolher o outro, para irmos ao encontro do outro. Então, com todos os nossos limites pessoais tanto em família quanto na comunidade ou sociedade podemos imitar Jesus Cristo no amor maior, aquele de se doar para os próprios amigos. Comportando-se assim, nós garantiremos a bênção de Deus e a sua vida para sempre. Concluindo: a Fraternidade é a promoção da nossa vida, é um olhar que não tem ocaso.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação - (Postado na cidade de São José do Rio Preto - SP).
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