Toda a sociedade contemporânea está sendo sacudida com as mudanças tecnológicas. É verdade que esse não é um fenômeno novo na história da humanidade, mas nunca foi tão intenso nem provocou tanto tremor nas estruturas existentes. Ele coincide com as mudanças do sistema capitalista. Sua expressão política, a globalização, atingiu o mundo todo com a queda da União Soviética, seus satélites e a adesão da China, que era comunista. Hoje ela tem bolsa de valores, bilionários ,trabalho assalariado, grandes marcas de consumo globais e se estrutura como a segunda maior economia do planeta. Todos participam do World Economic Forum , a peregrinação anual de gestores, acionistas, governantes, simpatizantes ao templo do capital. A discussão das idéias e apresentações ganhou maior visibilidade graças a essa mesma tecnologia. Ao invés de estar hermética em poucos espaços de divulgação, as múltiplas plataformas, abertas na era da internet, ativam o debate público, e acelera a discussão desses e outros temas da atualidade. Acentua a fiscalização do exercício do poder. Com isso caiu também o poder de alguns veículos e jornalistas que concentravam a maior parte das informações. Houve uma democratização do conhecimento do que se passa no mundo. Essas mudanças são turbinadas com o desenvolvimento de uma sociedade de custo marginal próximo de zero e representa o trunfo máximo do capitalismo.
Cabe ao público selecionar no cipoal digital o que quer ler e se inteirar. Está tudo á sua disposição. Supor que ele só aceita a última fofoca publicada no Facebook é uma distorção e subestimar o seu espírito crítico. O papel de watchdog do Estado deixou de pertencer a uma oligarquia e se abriu para os cidadãos com ou sem um diploma de jornalista. Agora há um verdadeira matilha. Há mesmo um questionamento radical constante por parte do público o que incomoda tanto os fiscalizados como aqueles que se sentem acompanhados do interesse de tantos cidadãos nas questões públicas. O fato das empresas jornalísticas viverem uma crise no seu modelo de negócio, mesmo com a demissão de jornalistas, mostra que invariavelmente avanços tecnológicos quebram monopólio de mercado. O direito de ser informado ganhou uma nova dimensão com a profusão de fontes e dos compartilhamentos digitais inexistentes até então. O mundo não corre o risco de ver oligopólios, como no passado, de manipular, esconder ou plantar informações falsas. Há muitos mais fiscais de plantão. E com isso a quebra de paradigmas, que segundo Thomas Kuhn é um sistema de crenças e hipóteses que atuam juntas para estabelecer uma visão integrada e unificada do mundo, tão convincente e atraente que é considerada um equivalente da realidade propriamente dita.
No novo campo da informação vai sobreviver quem tiver um chapéu de credibilidade. Não importa se é um grande conglomerado de mídia, ou um simples blog pessoal. O público vai continuar julgando pela qualidade jornalística em qualquer plataforma. Não se sabe mais onde estão os acionistas dos grande veículos que eram contatados para segurar uma notícia, ou mudar o rumo de uma investigação jornalística. É verdade que ocorre no meio o que Keynes chamou de desemprego tecnológico, ou seja, devido ao fato de novas descobertas de meios para economizar o uso da mão de obra supera o ritmo em que encontramos novos usos para essa mão de obra. O número de postos de trabalho nas redações encolheu sensivelmente o que provoca o temor que a qualidade do jornalismo necessariamente também caiu. É uma leitura enganosa. O público busca as marcas e nomes apoiados na credibilidade e na ética. Não acredita em qualquer boato ou rumor publicado não se sabe por quem, ou mesmo compartilhado entre os amigos. Invariavelmente ele vai confirmar nas fontes e veículos que ao longo dos anos construíram na sua percepção o compromisso com a verdade.
Fonte: Heródoto Barbeiro - Record News / São Paulo.
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