domingo, 24 de março de 2024

PAINEL DE IDEIAS - A descoberta das Letras

Descobrir os símbolos que representam cada som, aprender a colocá-los um ao lado do outro para formar palaveas, frases e textos é experiência marcante, uma enorme evolução


No box do banheiro embaçado pelo vapor da água quente, a ponta do dedinho vira um instrumento de escrita.

Nem durante o banho ele esquece que tanto o tem empolgado nos últimos tempos: as letras. Desde que começou a identificar palavras e entender que elas podem ser escritas, meu filho de  cinco anos tem vivido o deslumbre da alfabetização. É como se uma venda tivessi sido tirada dos seus olhos. De repente, aqueles símbolos coeçam a fazer sentido, com sons e siginficados.

Esse pequeno passo para um ser humano já foi também um grande salto para a humanidade. Por volta do ano 4.000 a.C; os Sumérios inventaram a primeira forma de escrita. Feita em barro, com instrumentos de metal ou madeira, a escrita cuneiforme foi usada por diferentes povos durante mais de 3 mil anos. A invenção foi tão importante para o desenvolvimento da humanidade que o surgimento da escrita é o marco que encerra a pré-história e inicia a Idade Antiga, ou Antiguidade. É o início das primeiras civilzações, como os povos da Mesopotâmia, as civilzações orientais, a egípcia, e tantas outras.

 Por muitas revoluções passou a escrita. Depois do barro vieram materiais como o papiro, feito de folhas vegetais, e o pergaminho, feito de pele de animais. Na antiguidade, havia o óstraco, pequeno pedaço de cerâmica, geralmente quebrado, usado para escrever mensagens. Dele se originou a "condenação ao estracismo", usada na Grécia Antiga, onde os eleitores votavam usando óstracos para condenar alguém ao exílio político por 10 anos (os eleitores de hoje fazem o caminho inverso).

Com a invenção do papel pelos chineses no Súclo II, e, bem depois da imprensa pelo alemão Gutemberg no séclo XV, a escrita tornou-se mola propulsora do desenvolvimento dos povos. Escritos passaram a difundir o conhecimento, até então restritos a algumas pessoas, classes ou regiões. A escrita à mão, ou caligrafia, surgida na China, foi considerada arte. Para muitos tão relevante com a pintura. Traz em si as condições e impressões pessoais de que a faz. Por isso, por meio de exame pericial e até possível identificar se um escrito partiu de um determinado punho. Como a escrita em geral, a caligrafia continua a passar por transformações. Quase não escrevemos mais à mão. Na era dos computadores e smartphones, usamos cada vez menos o lápis e  o papel. As crianças atuais não têm intimidade com a letra cursiva. Com o tempo, muitas não utilizarão a escrita manual ao longo da vida. Lembro-me quando escrevia a mão pequenas manifestações processuais. As chamadas cotas ministeriais eram feitas à caneta, diretamente na folha do processo. Hoje sequer papel se utiliza. O orocesso é todo digital.

Descobrir os símbolos que representam cada som, aprender a colocá-los um ao lado do outro para formar palavras, frases e textos é experiência marcante, uma enorme evolução. Isso vale para uma criança de cinco anos ou para a trajetória do homo sapiens, que usou para sair da escuridão da pré-história e escrever a história das civilizações humanas.

Fonte: Sérgio Clementino / Promotor de Justiça em Rio Preto. Jornal Diário da Região.


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