quinta-feira, 28 de março de 2024

CONJUNTURA - Assim fica difícil

Não é só a precariedade do nosso ensino fundamental que vem retardando a qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento econômico. Temos uma evasão escolar assustadora. Segundo estudo publicado pelo Serviço Social da Indústria no Rio de Janeiro (Firjan/Sesi), em parceria com o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 500 mil jovens acima de 16 anos desistem de estudar. E não é só isso: 31% da população brasileira é considerada analfabeta funcional.

O desenvolvimento econômico do país não acontecerá com tamanha evasão escolar de jovens que poderiam estar transformando o país e a sua própria vida. Num mundo onde as transformações tecnológicas ocorrem num ritmo alucinante, não dá para imaginar como seremos inseridos nesta nova ordem econômica internarcional.

Segundo o mesmo estudo, a universalização do acesso ao ensino médio ocorreu, como era esperado, mesmo com toda a ineficiência que conhecemos. Mesmo assim, milhares de adolescentes abandonam a escola ao longo do caminho, e o ensino médio vai ficando cada vez mais distanre de boa parte dos brasileiros.

Há muitos fatores que contribuem para tal cenário. As famílias estão desastruturadas, os jovens precisam trabalhar para ajudar no orçamento familiar, os currículos são poucos atraentes, repetência, escolas em pésssimo estado.

A evasão tem aumentado principalmente no 1º ano do ensino médio. O estudo "Combate à Evasão no Ensino Fundamental: desafios e oportunidades", informa que apenas 7 em cada dez brasileiros concluem essa última etapa da educação básica até os 19 anos, índice que nos coloca atrás de países latino-amercianos como a Costa Rica, a Colômbia e o Chile.

A baixa escolaridade traz problemas irreversíveis tanto para a população, causando perdas individuais e coletivas, diminui a empregabilidade, a perspectiva de salários melhores, e também para as empresas, diminuindo a sua produtividade, afetando também a mobilidade social.

As estatísticas mosteam os impactos negativos em áreas como saúde e segurança pública. O economista Ricardo Paes de Barros, desenvolveu uma metodologia que estima que o Brasil ganharia R$ 135 bilhoes por ano caso elevasse a taxa de conclusão de ensino médio para o mesmo patamar do Chile, onde 9 em cada 10 jovens completam esta etapa até os 24 anos.

A evasão escolar explica grande parte da extrema desigualdade do país, pois penaliza os pobres com mais intensidade: entre os 20 % mais ricos da população, a probabilidade de um jovem concluir o ensino médio é de 94% -- mais que o dobro do índice de 45% registrado na faixa dos 20% mais pobres, segundo o estudo.

Não há uma única possibilidade de revertemos o posiocinamento do Brasil sem repensar o sistema de ensino, e não só o fundamental. A equação desenvolvimento econômico, qualidade de vida e dignidade humana passa pelas mudanças do ensino. A reforma do ensino médio precisa rever principalmente o currículo, aquilo que está ensinando aos jovens, muitas vezes está desconectado de sua realidade e deste novo mundo.

A qualificação dos professores é outro fator, nem sempre atendido nos projetos apresentados, e sabemos que não há computador ou mesmo inteligência artificial que resolva os problemas de um professor despreparado. Precisamos tornar a escola um lugar mais aconchegante, interessante, ou certamente os alunos procurarão outros lugares, sabe-se onde.


Fonte: Hipólito Martins Filho / Jornal Diário da Região.




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