Fascínio pela moto mais rápida dos anos 1970 se transformou na missão de mantê-la nas ruas
No final de 1978 um adolescente de Curitiba (PR) começou a colecionar avidamente tudo o que conseguia sobre uma moto que espantou o mundo na época: a recém-lançada Honda CBX 1050, com um enorme motor de 6 cilindros em linha. Não havia nada parecido até então.
Era um sonho de consumo distante da maioria dos brasileiros devido ao preço elevado, acima da já reinante e cara CB 750, mas também porque as importações haviam cessado por decreto federal para impulsionar a nascente indústria nacional de motocicletas. “Era o ‘must’ na época, algo inatingível, que só víamos nas revistas estrangeiras”, lembra Ricardo Goldszmidt.
Até que, ao viajar em férias para a casa do primo na Argentina, no ano seguinte, se deparou com uma CBX na garagem da família. Pediu para dar uma volta, o primo receoso acabou cedendo e Ricardo se “apropriou” da moto pelo restante das férias. “Foi uma experiência fantástica. Ele não usava, então todos os dias eu andava de CBX das 8h30 da manhã às 8h da noite”.
De volta ao Brasil, aquele jovem teria diversas motos novas ao longo dos anos 1980, incluindo a CB 400, que foi a nacional de maior cilindrada em seu tempo, mas continuaria fascinado pela CBX. “Era a moto mais veloz, mas também tinha inovações por todos os lados: pneus sem câmara, 4 válvulas por cilindro, uso de magnésio no motor, uso intensivo de plástico para reduzir o peso”.
Já em 1996 Ricardo folheava o jornal quando viu uma CBX anunciada em São Paulo (SP). Naquele momento as grandes motos dos anos 1970 estavam envelhecidas, a manutenção era custosa devido à ausência de peças e, por isso, se tornaram pouco desejadas. Comprada por apenas R$ 4 mil (hoje os valores estão em seis dígitos), depois de quase 20 anos de espera aquele exemplar já cansado da icônica Honda de 6 cilindros mudaria o rumo da vida de Ricardo.
Iniciou-se uma busca por oficinas que pudessem restaurar a CBX 1979 às condições dos bons tempos. As visitas foram frustrantes porque ele via motos sendo reformadas sem preocupação dos profissionais com critérios de originalidade. “Restauração para mim é restaurar a moto às condições originais de quando foi fabricada e vendida na loja”.
Sem conseguir ter seus critérios atendidos para a restauração da CBX Ricardo passou a dedicar o tempo livre nos finais de semana a aprender sobre mecânica com profissionais experientes, que faziam a manutenção das grandes japonesas desde os anos 1970. Montou uma pequena oficina na garagem de um amigo e restaurou a moto por conta própria.
Passou a comprar outras unidades da 6 cilindros que tanto o fascina quando apareciam à venda no país, e em poucos meses já tinha três. “Buscava uma em melhor estado do que a minha, comprava, mas depois não me desfazia da outra!”, se diverte. A primeira restauração não ficou “perfeita”, em suas próprias palavras, mas “muito boa”.
Rodando com a moto e frequentando encontros de motociclistas e modelos clássicos ele era abordado por pessoas que perguntavam em qual oficina tinha restaurado a moto. A resposta com um singelo “eu mesmo restaurei” trouxe os primeiros clientes interessados nos serviços do então novo restaurador, especializado na histórica CBX 1050.
Essa demanda o fez deixar a carreira profissional em outro setor e o permitiu se dedicar integralmente a restituir modelos japoneses clássicos às condições de época e mantê-los nas ruas. “Eu defendo que moto antiga deve rodar. Você começa a andar com ela e imediatamente é remetido a 40 anos atrás. Vêm as lembranças, os cheiros, o barulho... é diferente de andar numa moto moderna.”
Ricardo diz que sua melhor restauração é sempre a última, porque continua aprimorando o processo. Continua estudando e melhorando os métodos para reproduzir técnicas usadas pela Honda na produção da CBX, com os materiais corretos do final dos anos 1970 e início dos 1980. “Pode ser o tipo de tinta ou a reprodução de um acabamento escovado. Faz muita diferença no resultado final para quem conheceu a moto na época, então sempre busco o mais próximo possível da 0 km.”
Fonte: Revista Duas Rodas.
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