A paciência impulsiona.
LAMA SURYA DIAS
Há alguns anos, uma amiga se tornou prefeita de sua cidade de 25 mil habitantes. Ela me convidou para uma reunião do conselho da cidade. Fui cedo, permaneci sentada observando os debates e logo me vi tomada de admiração. Que paciência têm esses cidadãos para analisar os mesmos problemas repetidamente, tentar solucionar necessidades urgentes com pouco dinheiro, pressionados por todos os lados por grupos de interesses que defendem suas posições! Pude ver nessa reunião que, embora os assuntos já tivessem sido vistos e revistos várias vezes, todos se tratavam de maneira respeitosa, falando e ouvindo atentamente.
No final da reunião, aplaudi internamente esses persistentes cidadãos que incansavelmente defendem o que acreditam ser correto. A seguir, comecei a pensar em todas as pessoas que pacientemente trabalham para manter nossa sociedade unida - os assalariados e voluntários que trabalham em operações não-lucrativas, policiais, bombeiros, pacifistas, a lista é interminável.
Comparo essas pessoas com as de uma história que recentemente dominou o noticiário dos jornais. Depois de uma van subir na calçada e ferir três pedestres, sete homens puxaram o motorista e o passageiro para fora e os espancaram até a morte. Isso aconteceu em um bairro de classe média em Chicago; os homens acusados de homicídio tinham entre 16 e 47 anos.
Quando contemplo essa história horrível através a lente da paciência, o que me surpreende não é o que aconteceu, mas o fato de não ocorrer com mais frequência. Esses homens não conseguiram esperar pelo término do julgamento (o motorista, um homem de 62 anos, estava bêbado) e decidiram agir por conta própria, aplicando sua forma de punição. Essa história virou notícia porque é incomum, pois a maioria de nós, mesmo aqueles que já foram prejudicados, aprendeu a esperar pelos processos e pelas práticas da sociedade.
Na realidade, a sociedade só funciona porque a maioria de nós consegue exercer a paciência. Como estamos dispostos a ter paciência, em vez de avançar o sinal, esperamos o sinal ficar verde antes de prosseguir; aguardamos quanto vamos a um grande evento, um jogo ou um concerto, em vez de empurrarmos as pessoas para conseguir entrar; respeitamos a ordem de chegada das filas para sermos atendidos; reclamamos nossos direitos nos órgãos competentes e até pressionamos pra obter mudanças e soluções, mas procuramos, de uma modo geral obedecer as regras.
Quando a paciência é praticada, a sociedade se mantém funcionando, com todas as suas falhas, mas de forma capaz de conciliar interesses e necessidades de bilhões de pessoas. É quando nos impacientamos - seja para ganhar dinheiro rapidamente, para passar na frente dos outros, para obter vantagens que prejudicam o bem-estar da coletividade - que o desequilíbrio e o caos se instalam.
A paciência está na essência da diplomacia, da civilidade, da obediência às leis e da ordem pública. Sem ela, as pessoas não conseguem trabalhar em conjunto, e a sociedade não funciona. Com ela, criamos a possibilidade de paz entre pessoas e nações.
Fonte: Do Livro: O PODER DA PACIÊNCIA - Autora: M.J.Ryan - Editôra Sextante.
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