Quem nos ajuda a explorar esse tema tão importante é uma pessoa que vem de longe: São Justino. Ele nasceu em Samaria, na Terra Santa, pelos anos 100. Foi filósofo e mártir que defendeu a nossa religião das graves acusações dos pagãos e dos judeus. Ele escreveu o “Diálogo com o Hebreu Trifone”, entre um rabino e um cristão. Qual foi o debate deles? Uma longa discussão sobre a interpretação das profecias messiânicas que se acham nas Sagradas Escrituras. Justino mostra como em Jesus se realiza o projeto de Deus tanto da criação quanto da redenção. Ele é a Razão eterna, a Razão criadora. Nesse sentido, todo ser humano participa dessa Razão que é Jesus, Princípio e Fim, enquanto ser racional.
Assim, Justino projeta o seu percurso intelectual através da leitura das Sagradas Escrituras e pela filosofia cristã que ajuda alcançar com a certeza as verdades últimas sobre Deus, o mundo e o ser humano. De fato, a filosofia cristã marcou constantemente os primeiros séculos, dando-nos filósofos de renome como Agostinho e Orígenes. Houve uma mudança de relevo com a entrada da filosofia cristã em relação ao passado. Assim sendo, nos perguntamos: como era antes do cristianismo e como era vista a religião? A religião era uma atividade que se concretizava em ritos e sacrifícios, em que as pessoas participavam, e nada mais que isso ou talvez um crer que se refazia ao mito tradicional.
No entanto, debater sobre Deus era da filosofia, que se debruçava sobre os princípios fundamentais da vida e se restringia a segmentos da sociedade que possuíam instrumentos materiais e intelectuais para poder ensaia-la e alimenta-la. A partir de Jesus Cristo, essa prática filosófica se universaliza e se abre a todos. Não é mais restrita a uma elite, mas alcança todos os segmentos da sociedade pela mediação dos intelectuais e dos pregadores cristãos que se refazem, a partir das Sagradas Escrituras e dos seus comentários. A respeito disso, é só lembrar um dos grandes autores: Santo Agostinho. Ele ainda hoje é um autor dos mais lidos no mundo.
Todo esse movimento filosófico cristão que vai da prática cultual a um sistema de conhecimento e de crença em relação a Deus, a partir de Jesus, leva a uma ética bem consistente, alimentando a prática religiosa ancorada a uma viva liturgia, à Bíblia e à Tradição da Igreja. Assim sendo, o cristianismo desde as suas origens se impôs na vida das sociedades e do mundo intelectual, através do seu pensamento. O cristianismo, podemos dizer também, é uma verdadeira filosofia e, ao mesmo tempo, caminho universal de acesso para a verdade sobre Deus e sobre o ser humano. Hoje em dia, no mundo do relativismo dialógico sobre os valores, a religião e o debate inter-religioso, Cristo resgata a humanidade, dando-lhe uma plenitude de vida. Portanto, Jesus Cristo é também uma manifestação histórica de vida na sua totalidade e de reflexão que promove todos e não somente os cristãos. Portanto, uma profunda filosofia passa também pelo Jesus, qual luz para as nações.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia - Belém-PA.
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