quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Teste Indian Roadmaster - Touring Clássico

Se o destino não for o mais importante, então que a viagem seja em grande!

Sempre se ouviu dizer que há motos, motinhas e motões! Dependendo sobretudo do gosto e da disponibilidade financeira, este conceito varia de motociclista para motociclista, mas fundamentalmente é definido pelo impacto que uma moto causa, sobretudo, nos que não são motociclistas.

A Indian Roadmaster que aqui lhe trago é, sob todos os aspectos, um grande motão! Ninguém lhe fica indiferente!
Peguei nela para ir uns dias de férias e ao mesmo tempo testar as suas aptidões turísticas. Não fui muito longe, até porque a meteorologia instável não deixava prever se podia ir para a praia ou se seria melhor dedicar-me apenas à gastronomia, mas tentei escolher um cenário que permitisse avaliar os diversos parâmetros sob os quais uma moto destas deve ser avaliada: conforto, capacidade de carga, autonomia, facilidade de manobra e prazer de condução. Sobretudo estes.

Por isso parti rente ao mar, a caminho da Costa Vicentina e do Barlavento Algarvio, com passageiro e muita bagagem, como se de umas férias à séria se tratasse. No total, não cheguei a fazer nem 2000 quilómetros, durante a semana em que me propus fazer este teste, mas praticamente não entrei em auto-estradas, e percorri uma boa parte do Algarve, desde o Atlântico até ao Guadiana, pelas esquecidas e deliciosas estradas de montanha do Barrocal.
Inquestionavelmente grande, pesada e provavelmente intimidante para qualquer motociclista menos experiente, a “flagship” (americanismo para topo de gama) da Indian é um magneto de atenção. Fosse no centro de Lisboa, ou nas isoladas aldeias do interior Algarvio, onde quer que parasse, não demorava muito a ter curiosos à sua volta, a contemplá-la, a fotografá-la, a comentá-la, e a interpelarem-me!

É efectivamente uma moto que enche o olho, cheia de pormenores que a maioria das pessoas nem imagina que um veículo de duas rodas possa ter.

A lista é grande, e em alguns casos em que fui abordado por desconhecidos, não pude deixar de notar a admiração das pessoas quando ficavam a saber que a Roadmaster tem mais de 1800cc de cilindrada, que pesa mais de 400 quilos a seco, e que tem todas as funcionalidades electrónicas de qualquer automóvel “topo de gama” a que nem sequer falta o sistema “sem chave” e o comando à distância para trancar e destrancar as malas.


Além das linhas arredondadas, dos muitos cromados e dos os requintados assentos, típicos do estilo “cruiser”, o painel de instrumentos foi outro dos “chamarizes” de atenção. O LCD a cores, de 7 polegadas, instalado no meio dos habituais instrumentos analógicos debruados a cromado, não passa despercebido, tal como as quatro enormes e potentes colunas de som de 100 Watt de potência, cuja performance é assinalável, mesmo a alta velocidade. 

A informação disponível no painel é muita, não faltando sequer a indicação da pressão dos pneus, podendo ser exibida de diversas formas personalizáveis, já que o ecrã pode ser dividido em dois para, por exemplo, mostrar simultaneamente o mapa do GPS e os dados mais importantes da viagem. Não é por isso em vão que lhe chamam Ride Command. 

Intrinsecamente ligado a qualquer sistema de “infotainment” está o seu sistema de controlo, os menus de navegação e os botões de comando, e nesse caso a Indian resolveu muito bem o assunto, sendo bastante fácil entender e memorizar todas as funcionalidades e a navegação entre elas, mesmo com luvas grossas calçadas. Apenas o GPS mostra alguma dificuldade em se mostrar prático em termos de consulta e introdução de dados, mas isto digo eu que estou mais habituado ao “google maps” do que aos equipamentos dedicados. O sistema conta ainda com Bluetooth, emparelhável com o telefone e com auriculares de capacete, e uma entrada USB para ligar o smartphone ou uma “pen drive” com música em formato MP3.
Escondido debaixo de todo o glamour, o desempenho dinâmico da Indian Roadmaster é consequente com o propósito desta grande moto turística. Previsivelmente difícil de manobrar a baixa velocidade ou à mão, o seu desempenho privilegia a estrada aberta e as longas tiradas, garantindo um enorme prazer de condução, obviamente que dentro do contexto turístico.

O depósito de combustível tem capacidade para 20,8 litros, e garante autonomias superiores a 300 km, com abastecimentos a cada duas horas, sendo perfeitamente possível fazer etapas sucessivas graças ao conforto da suspensão, à boa ergonomia e à excelente proteção aerodinâmica. E tudo isto é válido para o condutor e para o passageiro, este a desfrutar de um verdadeiro “trono” a que nem sequer falta a possibilidade de regular a altura das plataformas dos pés, carregar o telemóvel ou regular a temperatura do próprio assento.


O motor Thunder Stroke 111 também contribui para uma viagem despreocupada, com binário mais do que suficiente para garantir ultrapassagens e retomas rápidas, sem ser necessário recorrer frequentemente à caixa de velocidades. Esta versão de 2019 conta ainda com 3 modos de condução que modificam a resposta do V-Twin ao acelerador, e suavizam ou exponenciam a entrega dos 151 Nm de binário máximo disponível.

Em situações de congestionamento de trânsito, ao “ralenti”, este motor conta agora também com a funcionalidade de desligar automaticamente a ignição do cilindro traseiro, para minimizar o aumento de temperatura do posto de condução.

A ciclística foi muito bem concebida, mostrando-se o conjunto extremamente ágil em sucessões de curvas, apesar dos 1668 mm que mede entre eixos, e está apenas limitada pela relativamente pouca inclinação lateral. A forquilha de 46 mm de diâmetro, com um curso de 119 mm, digere bastante bem as maiores irregularidades do piso e está bem complementada com o desempenho do amortecedor traseiro regulável, a ar, de curso semelhante.


A Roadmaster é  também muito eficaz na travagem, já que na roda dianteira conta com duplo disco flutuante de 300 mm e pinças de 4 pistões.

A capacidade de carga é invejável. A Indian revela que esta Roadmaster pode carregar um total de 227 kg (gasolina incluída) e por isso não é de estranhar a grande dimensão da “Top Case”, onde facilmente se arrumam dois capacetes modulares e ainda sobra espaço para uma pequena bolsa de senhora, camisolas para vestir à noite e mais alguns pequenos objetos nos intervalos.

Uma conveniente grade, inevitavelmente cromada, colocada na tampa, ainda permite transportar um saco extra, uma tenda de campismo, ou até a casota do cão ou do gato. Nas malas laterais, apesar de não entrar nenhum capacete digno desse nome, há espaço suficiente para duas boas mochilas e, eventualmente ainda, guardar os fatos de chuva.

Assentos e punhos aquecidos, ecrã pára-brisas com regulação eléctrica de altura e Iluminação integral em LED, são funcionalidades importantes para quem pretenda fazer viagens longas e, tanto quanto pude constatar, todas elas foram bem concebidas, sobretudo no que à iluminação diz respeito, já que, mesmo sem recurso aos faróis auxiliares, a visão noturna é excelente.
Nas proteções das pernas, que nesta versão contam com duas entradas de ar que podem ser fechadas ou reguladas manualmente, estão ainda disponíveis espaços de arrumação (sem fechadura), convenientes para guardar pequenos objetos durante a viagem.

Como pontos a criticar, talvez o mais importante seja o assento do condutor, que se revela demasiado rígido, causando algum desconforto no fundo das costas ao cabo de um par de horas de condução consecutiva. Os motociclistas de perna mais curta vão ter imensa dificuldade a manobrar. Apesar de o assento ser bastante baixo, a apenas 673 mm do solo, a largura do conjunto obriga a uma grande abertura das pernas, tornando difícil segurar a moto (sobretudo com passageiro e carga) quando o piso não for perfeitamente plano.

O elevado preço é talvez o maior defeito desta Indian Roadmaster. Mas não pode ser considerada cara, tendo em conta que é uma moto exclusiva, comprovadamente fiável, dotada de tudo o que de melhor a tecnologia tem para oferecer, com acabamentos e materiais de elevada qualidade, e preparada para longas viagens a dois, dispondo ainda de uma considerável rede de assistência espalhada por todos os continentes.

Para poder apreciar de perto a Roadmaster, vá a um dos concessionários Indian em Portugal (clique para ver qual está mais perto de si).

Fonte: www.andardemoto.com.pt


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