O salmo 111 nos diz que é feliz a pessoa (e eu diria também a nação) que teme o Senhor. E esse respeito, obediência a Deus, não se dá tanto em falar Dele, como diz Jesus Cristo: ‘não que diz Senhor, Senhor, mas que faz a vontade Dele entra no Reino de Deus’. Portanto, a felicidade é consequência de seguir a Deus, colocando em prática a sua vontade que é de amar. Hoje em dia, podemos dizer que as pessoas são realmente felizes? As nações são felizes? Por que todas essas agitações, rupturas, ódios, ciúmes, mentiras, vinganças e guerras? Te convido a ler o salmo para depois tentar entendê-lo melhor.
"Aleluia. Feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos. 2. Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos. 3. Suntuosa riqueza haverá em sua casa, e para sempre durará sua abundância. 4. Como luz, se eleva, nas trevas, para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo. Feliz o homem que se compadece e empresta, que regula suas ações pela justiça. 6. Nada jamais o há de abalar: eterna será a memória do justo. 7. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor. 8. Inabalável é seu coração, livre de medo, até que possa ver confundidos os seus adversários. 9. Com largueza distribuiu, deu aos pobres; sua liberalidade permanecerá para sempre. Pode levantar a cabeça com altivez. 10. O pecador, porém, não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus."
O salmo que acabaste de ler é uma resposta ética, de comportamento do fiel que queira colocar realmente em prática aquilo que Deus exige, que a sua Palavra orienta. Esse hino é, de fato, uma bem-aventurança para o justo. Isto, naturalmente, marcado pela visão sapiencial da contraposição do justo e o ímpio. O hino oferece dois personagens em contraposições: um, o justo, lhe são dedicados nove versículos sobre dez e, no entanto, o ímpio somente um versículo. O pecador, infiel, assim assiste ao triunfo do justo, fiel, fazendo o que? Diz o salmo: “não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.” Quem é o justo, o fiel? É aquele que segue fielmente a Aliança do Senhor e é humilde; e se preocupa de estar próximo dos pobres e dos que sofrem e reparte com eles a sua ajuda, a sua caridade.
Essa ação caridosa, segundo a concepção da retribuição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio’, leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família e marca toda a geração que pertence
ao justo, ao fiel: “Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Assim sendo, segundo a visão clássica sapiencial bíblica, quem pratica o bem gera felicidade. É o compromisso com a caridade que dá felicidade também para uma nação. No Novo Testamento, encontramos também em São Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre."
E o papa Francisco na audiência geral na Praça S. Pedro do dia 11.06.2014 disse o seguinte: “Estejamos atentos a não pôr a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto não nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que têm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta será feliz no além? Não, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu coração e será difícil alcançar o Senhor. Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta!? Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fabricantes de armas não vêm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus. (...)
Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz à dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder reconhecer-nos, juntamente com eles, revestidos de misericórdia e de amor a Deus, que é o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!”
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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