sábado, 9 de março de 2019

DEUS NOS FALA

Evangelho de Lucas 4,1-13

Lucas relata que toda a existência de Jesus foi marcada pela tentação da sedução do poder e da riqueza para obstaculizar o Reino de Deus. Porém, diz o evangelista, Jesus foi categórico ao rejeitar tudo isso. Continua Lucas: “Jesus pleno de Espírito Santo”, isto é, com a força de Deus foi para o deserto. Mas, por que foi para o deserto? Você se lembra de quando o povo hebreu se libertou do Egito e passou pelo deserto para poder chegar à terra prometida? Muito bem. Aquela libertação ficou incompleta. Agora Jesus tem a missão de libertar de maneira definitiva o povo que ainda é escravo. Por isso, diz Lucas que Jesus ficou quarenta dias, fazendo alusão ao êxodo conduzido por Moisés.

Aqui precisamos esclarecer logo que os números na Sagrada Escritura tem sempre um valor figurado e nunca aritmético. Dito isto, quarenta representa uma geração. Assim sendo, significa que toda a vida (geração) de Jesus foi submetida a essas tentações de falsificar o projeto de Deus de salvação. E quem provocou tudo isso foi o diabo. Com isso, Lucas contrapõe o Espírito Santo ao diabo. Duas maneiras de ser totalmente diferentes. De um lado, Deus que serve porque ama e liberta, do outro lado, o diabo que quer de todo jeito o poder que divide, que escraviza.

“Passado esse tempo, teve fome”, isto é, cheio de Espírito Santo, quis manifestar a plenitude da sua missão através da doação total de si. Portanto, não tão uma fome física, mas, sim, de revelação do projeto do Pai. Por isso, o diabo, não se conformando pela rejeição de Jesus, insiste em colocar a prova o Mestre Nazareno. Veja a ousadia do diabo: desconfiar que Jesus seja o filho de Deus. Quantas vezes também entre nós surgem e se alimentam esse tipo de dúvidas sobre o nosso Mestre Jesus. Isto é, segundo Lucas, obra do diabo.

O ser humano, por quanto errado possa ser, nunca tem a capacidade de minar na raiz o projeto de Deus Pai. Não tem capacidade para chegar assim à fonte de Deus. Único é o diabo, que tem o poder de identificar tudo o que procede de Deus, porque, segundo o catecismo da Igreja Católica “são anjos decaídos por terem se recusado livremente a servir a Deus a seu desígnio”. Qual foi a reação de Jesus? Ele cita o trecho do Deuteronômio: “Não só de pão vive o homem”. Isto significa que tem algo mais importante do que isso, e, portanto, não podemos absolutizar o material, por quanto importante seja.

A segunda tentação: "Eu te darei todo o poder e riqueza...” Lucas quer dizer que o ‘poder e a sua glória’ são tentações do diabo para impedir que o Reino de Deus se realize entre nós. No entanto, o Reino se manifesta com o amor e não com a conquista de ‘poderes de glória’. Enfim, a última tentação foi de se jogar do alto do Templo de Jerusalém, mas que Jesus retrucou, sempre com as Sagradas Escrituras: “Não tente o Senhor seu Deus”. Com isso, renova a total confiança em Deus Pai.

Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.


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