Escrever um manual de jornalismo apresenta, de cara, dois desafios: os limites éticos e o transporte do conteúdo até o público. Este sofre uma revolução tão profunda que só pode ser comparada quando um velhinho de Mainz, na atual Alemanha, mandou, com sua prensa de tipos móveis, os copistas para o museu. Uma luminura levava meses para ser copiada e a prensa do Gutenberg abreviou para poucos dias. Os exemplares que eram produzidos por unidades passaram a ser impressos às centenas e se o comprador pedisse mais cópias era só por mais tinta nos tipos. Nem bem se avaliou o que a tecnologia digital já mudou para o transporte de informação e notícia e já se avizinha a chegada da velocidade 5G. Certamente ela vai completar o processo disruptivo que está em acelerado avanço. Contudo a questão é o que vai acontecer com a velha tecnologia do transmissor e antena que ainda carregam veículos tradicionais como o rádio e a televisão? Elas ainda adotam uma estrada de mão única e que cada aparelho está ligado unilateralmente aos sinais que são transmitidos. A tecnologia 5 G vai completar o processo que tudo estará conectado via internet, ou seja a materialização da “internet das coisas.” Com isso vai ser preciso reavaliar como a programação do rádio e da tevê continuarão a ser entregues ao público e quem vai bancar a mudança.
A internacionalização da comunicação chega ao apogeu com as novas tecnologias. Ela começou a se concretizar ainda na época de Ciro, o unificador e construtor do império persa. Muitos povos sob um mesmo imperium, um sistema de correios capaz de levar e trazer relatórios com ordens e avaliação dos governadores, sátrapas, indicados pelo poder central. Acentuou-se no império grego com a simplificação da escrita, o que facilitou a comunicação entre diversas cidades-estado. No império romano o aperfeiçoamento da redação de leis acelerou o sistema administrativo com melhor comunicação. O império islâmico foi responsável pela tradução e universalização do conhecimento de filósofos e pensadores da Eurasia. Graça a isso não se perdeu. A característica comum dessas iniciativas foi a sobrevivência de línguas, tradições e religiões locais, convivendo com a língua, tradição e religião do império. Em alguns casos pagava-se um imposto e podia-se manter os costumes locais. Contudo nada foi tão eficaz como o legado do imenso império espanhol durante a conquista da América e parte do globo. As novas tecnologias são universais, e o conteúdo também. Os espaços informativos nessas plataformas são de acesso universal. Há um novo “imperium”, o dos bit e bytes. Suas consequências ainda não foram totalmente avaliadas.
Como o jornalismo vai transitar nesse novo “imperium” que está disponível a população de todo o planeta e já tem conectado uns 4 bilhões de seres humanos.? Certamente não vai ser no sistema linear que sustentou os meios eletrônicos por mais de 70 anos. Hoje as empresas de tecnologia são o motor do carro do conteúdo e responsáveis pela difusão também do jornalismo em todo o globo. Mas quem disse que o motor não pode assumir o controle do veículo e se tornar ao mesmo tempo difusor e produtor de conteúdo? Já há sinais disso uma vez que o custo de difundir conteúdo via IP é mais barato e contém a interatividade, a dupla ou pluri mão de direção. Este foi o desafio que o jornalista Udo Simons e eu tivemos ao redigir para a editora Alta Books, o Jornalismo para a coleção Para Leigos e que é lançada neste mês. Uma parte da prática do jornalismo vem da experiência do Jornal da Record News, que há quase um ano está em multi plataforma e a televisão é apenas uma delas. Como todo o conteúdo da internet pode ser acessado via smart tv, smart phone, tablet, computador,, telas dobráveis ou qualquer outro gadget na prática se pode assistir todo o conteúdo ao vivo, ou não, em qualquer lugar de Gaia. Quanto ao desafio ético fica para quando os filósofos nos concederem uma entrevista.
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