Sou uma pessoa ansiosa.
Acordo cedo. Almoço cedo. Durmo cedo. No trabalho, não consigo procrastinar, tenho que fazer aquela tarefa assim que ela chega na minha mesa. Em casa, fico pronto para qualquer compromisso no mínimo trinta minutos antes. Esperar a mulher passar cremes, testar combinações de roupas e se lembrar de pegar celular, bolsa, óculos etc. é uma tortura. Acordo no meio da noite para anotar ideias para textos aqui do MOTO.com.br e depois não consigo dormir porque a ansiedade toma conta. Nos pontos de encontro antes de um passeio de moto sou sempre o segundo a chegar (o primeiro é um xará mineiro mais ansioso que eu).
Mas ansiedade não significa pressa. No meu caso é o contrário. Sou ansioso porque gosto de fazer tudo com calma, no meu tempo, cumprindo todas as etapas do processo. Escrevo este texto enquanto organizo mentalmente o que preciso fazer daqui a pouco para o próximo rolê: carregar o intercomunicador, colocar o alforje e a capa de chuva na moto, encher o tanque, calibrar os pneus. Que mais? Acho que estou me esquecendo de alguma coisa. Tenho que me policiar para não deixar a ansiedade me atrapalhar, por isso, voltemos ao texto.
Sim, eu falava que ansiedade não tem nada a ver com pressa. Afinal, você e sua mãe esperaram nove longos meses até você vir ao mundo. Você esperou sabe-se lá quanto tempo para ver seu time campeão (eu, por exemplo, esperei muito). Esperou bastante até conseguir um beijo da menina bonita da escola. E, mais angustiante ainda para nós motociclistas, esperou infinitos dezoito anos até tirar a habilitação. Então pra que a pressa?
Faminto, ouvi recentemente essa pergunta do chef e proprietário da Soberana Comida Caipira, em São Francisco Xavier. Atrás do seu fogão à lenha nos fundos da própria casa, o Edu prepara com toda a calma do mundo uma deliciosa refeição de encher os olhos e dar água na boca. É uma excelente dica para quem quiser fazer um passeio por uma estrada belíssima, comer bem e bater um papo com um cara espetacular que ama o que faz. A dica é ligar e reservar antes, porque o lugar tem enchido bastante, e degustar as maravilhosas iguarias mineiras bem devagar.
Enquanto eu controlava a minha ansiedade e tentava não devorar o torresmo, a linguiça, o arroz, o tutu, a bisteca e muito mais, fiquei pensando nessa pressa que a gente tem hoje em dia. Em tempos de smartphones, Redes Sociais, WhatsApp e Instagram, tudo é pra já e acabamos não aproveitando o momento. Temos pressa de publicar uma foto, pressa de ler a mensagem que o grupo da família mandou, pressa de subir na moto e voltar para casa. Aliás, essa síndrome da volta para casa é perigosa. Aceleramos mais, estamos mais cansados, há muito mais carros na estrada, às vezes está escuro.
Por isso, é sempre bom lembrar: não tenha pressa. Espere para fazer ultrapassagens com segurança. Espere o imbecil que te fechou ir embora. Espere a chuva passar se for o caso. Espere para tomar a sua merecida cervejinha depois do passeio, de preferência ao chegar em casa na boa, agora sim vendo as fotos que você tirou do passeio, postando nas redes sociais e lembrando que o próximo fim de semana chega rapidinho.
Em tempo: depois de pagar a conta no restaurante, todos de barriga cheia, um dos meus amigos perguntou se a gente poderia voltar a 50, 60 por hora, no que um outro respondeu: pra que a pressa?
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