A fama da BMW GS como grande off-roader, apesar da alta cilindrada, vem das vitórias no Dakar durante a primeira metade dos anos 1980. O best-seller mundial da marca foi criado com o modelo topo de linha que hoje corresponde à R1200GS quando as concorrentes tinham menos cilindrada e sofisticação, mas serviam para cultivar uma legião de motociclistas sonhando em um dia chegar ao topo da cadeia com a BMW.
Os anos a deixaram cada vez mais confortável e cheia de recursos de conveniência, uma “adventure tourer”, enquanto modelos de outras marcas surgiram e até a ultrapassaram em agilidade e capacidade off-road. A versão Adventure completava a linha com maior orientação fora de estrada (mais curso nas suspensões, protetores, pedaleiras largas...), porém com todos os acessórios e tanque para 30 litros peso e agilidade continuavam sendo fatores limitantes. O início das vendas da mais esportiva Rallye vem fazer esse ajuste na linha 2017.
A nova versão é parte da atualização apresentada na Europa no fim de 2016 e agora à venda no Brasil. Todas as R1200GS receberam aprimoramentos na aerodinâmica frontal, com novo para-lama, aletas laterais com entrada de ar e ressaltos adicionais para desviar o vento. O sistema de transmissão teve um coxim incluído no eixo cardã para minimizar vibrações, alterações no garfo seletor de marchas, eixos e adoção de embreagem deslizante (continua com o quickshifter). Nas suspensões o sistema de ajuste eletrônico ESA passa atuar continuamente sobre a pré-carga das molas, de acordo com o modo de pilotagem selecionado e o que acontece durante o funcionamento.
Da Premium+ (R$ 74.900) para a Rallye são acrescentados R$ 1 mil que se revertem em novo padrão de acabamento azul com o jogo de cores Motorsport (branco e vermelho), diversos componentes pintados de preto, para-brisa baixo, pedaleiras serrilhadas largas, assento mais esguio e plano, protetor de chassi, radiador de aço inoxidável e o complemento ideal para as rodas raiadas: suspensões de curso elevado em 20 mm e molas de maior tensão para assegurar resistência superior a impactos, como na Adventure. Tudo foi pensado para melhorar a pilotagem off-road sem perda de agilidade.
E na prática?
A primeira impressão foi um “uau” para a estética, e também para a coragem de instalarem um banco realmente projetado para pilotagem off-road (em pé) que é quase monoposto. Conforto e camada de espuma deixam de ser prioridade na Rallye. Modo de pilotagem Road para o primeiro trecho de estrada no asfalto, Dynamic ESA na seleção “um ocupante” (adicionei carga para um comportamento mais esportivo) e segui para uma fazenda no interior paulista onde teria liberdade e nenhum tráfego para avaliar a moto em diferentes tipos de piso.
O motor de 2 cilindros contrapostos tem novo mapeamento de ECU, nada que tenha modificado sua característica: vigoroso em baixas e médias rotações, embora progressivo nas respostas ao acelerador. Neste teste não melhorou seu tempo de aceleração, o 0 a 100 km/h em 4s39 foi mais lento que nossa última medição com a Adventure (4s01) em parte porque a embreagem hidráulica insistia em deixar a moto dar um pulo à frente ao ser liberada, exigindo muita suavidade e paciência para chegar à melhor marca. Em compensação todas as retomadas de velocidade em 6ª marcha melhoraram.
É verdade que o banco que se mostrou um pouco duro para viajar, em especial quando se parte do parâmetro que conhecemos da R1200GS, mas nos primeiros metros off-road ajudou muito na postura em pé, possibilitando encaixar as pernas no tanque para ajudar a direcionar a moto. Além da largura, o grip das pedaleiras é superior e o tamanho dos “dentes” consegue manter o contato com a sola da bota mesmo cheia de barro. Uma vez sentado os cilindros salientes limitam o posicionamento da perna (esticada para frente do lado interno) nas curvas, assim como antes, e de resto a ergonomia não mudou. Em todas as versões há outra novidade bastante útil em piso de baixa aderência, o assistente de partida em subidas, bastando segurar a alavanca de freio totalmente pressionada por alguns instantes e uma luz se acenderá no painel indicando o acionamento do sistema: o freio dianteiro permanece acionado como se fosse um freio de estacionamento, até que é liberado automaticamente quando a roda traseira começa a se movimentar.
Público dirigido
O modo de pilotagem Enduro Pro ajusta o controle de tração para que permita derrapagens nas acelerações e o ABS da roda traseira para que haja travamento, ajudando a direcionar a moto em curvas mais fechadas. No Dynamic Pro, para asfalto, as reações ao giro do acelerador são mais imediatas e as suspensões se enrijecem para uma pilotagem mais esportiva, o controle de tração fica ligeiramente mais permissivo e o ABS mantém seu funcionamento em plena curva.
As suspensões atuam bem de forma geral, apesar do cuidado extra da Rallye com a eficiência fora de estrada absorvem com facilidade as variações de piso no asfalto e transmitem segurança para acelerar nas curvas perto do limite de inclinação da moto. Mérito também de contar com um sistema ativamente adaptativo, que busca os melhores ajustes em cada situação.
Esta versão Rallye é uma novidade bem-vinda, especialmente para quem gosta de off-road mais pesado e sentia a perda de agilidade da Adventure. Os R$ 1 mil adicionais sobre a Premium+ são irrisórios se considerados os acréscimos em acabamento e acessórios. Por outro lado, o assento longitudinalmente encurtado limita o uso com passageiro e o conforto em jornadas longas, fazendo da R1200GS um “brinquedo” específico para off-roaders.
Fonte: Revista Duas Rodas.
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