sábado, 21 de janeiro de 2023

PAINEL DE IDEIAS - O berço das tempestades

Panfletos lançados em aviões, assinados pelo general japonês Yamashita, comunicando o fim da Guerra, foram interpetrados pelo tenente Onada como artimamhas do inimigo para atraí-los para fora da selva

O ano era 1944. O tenente japonês Hiroo Onoda foi enviado à ilha Lubang, nas Filipinas, sob o comando do Major Yoshimi Taniguchi, com a missão de reprimir ataques à ilha, manter-se vivo, não se render e não cometer suicídio, sob nenhuma circunstância. Taniguchi garantiu-lhe que voltaria. "O Berço das Tempestados" - como foi batizado o seu batalhão.

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra, a ilha foi retomada, e a maioria das tropas japonesas foi caputrada pelas Forças Americanas. Onoda e outros três soldados permanceram na selva. Dois morreram embatalhas, um se rendeu às tropas filipinas. Onoda continou nas montanhas, por vinte e nove anos, aguardando ordens diretas do seu superior, negando o fim da Guerra e a renddição do Imperdador. Determinado a tornar-se o "eterno pesadelo do inimigo", matou cerca de tritna filipinos e sobreviu roubando arroz, bananas e vacas nas vilas de camponeses.

A dissonância cognitiva de Onoda é evidente em diversas situações. Panfletos lançados por aviões, assinados pelo general japonês Yamashita, comunicando o fim da Guerra, foram como artimanhas do inimigo para atraí-lo para fora da selva e reforçaram sua convicção no retorno triunfal das tropas japonesas. Um chicleta mascado era algum sinal, uma emboscada. Onoda e alguns soldados bateram continência para uma cratera sem corpos.

Após quase três décadas, Onoda foi encontrado por Norio Suzuki, estudante japonês. Suzuki fez uma "sefie" com o tenente e retorno ao Japão, levando a foto como prova do encontro. Em 1974, o governo japoneês enviou à Lubang o agora livreiro Major Taniguchi, em traje militar, para informar a derrota e resgatar Onoda.

Após sua baixa, Onoda mudou-se para o Brasil, onde residia um de seus irmãos. Casou-se e tornou fazendeiro de gado, no Mato Grosso do Sul. Recebeu condecorações da Força Área Brasileira e da Assembléia Legislativa desse estado. Morreu em 2014. A justificativa da família para um militar tão patriota ter deixado seu país era o anacronismo do tenente e a dificuldade em adaparta-se às informações pelas quais o Japão havia passado e, no Brasil a comunidade nipo-brasileira conservara os costumes e tradições.

O cinesta Werner Herzog, em seu livro "O Crepúsculo do Mundo", conta a história da "sobrevivência, honra e loucura" de Onoda. Arthur Harari, também cinesta, dirigiu o filme: "Onoda - 10 Mil Noites na Selva", em que o retrata como um sujeito ambíguo, sem traumas de guerra ou outros transtornos mentais; e a insistência em permanecer, quase 30 anos, alheio à realidade era um esforço pessoal para provar algo a si mesmo.

Herzog descreve Onoda na floresta, disposto a resistir, por acreditar que "uma força militar gigantesca estava para chegar, apoiada por artilharia, lança-granadas e metralhadors, sem falar na Força Aérea Imperial". Em outros escreve: "Eles persistem (...) com a paciência de animais selvagens, incompreesível aos humanos",  "A guerra de Onoda é insignificante para o universo, para o destino dos povos, para o curso da guerra em si. Ela se compõe da união de um nada imaginário com um sonho".Essa "sua guerra, produzida por nada, é um acontecimento arrebatador, arrancado da eternidade" que se evidencia em quadros atuais de certezas e sonho, "num tempo informe de sonambulismo".


Fonte: MARA LÚCIA MADUREIRA - Psicóloga Cognitivo-comportamental em Rio Preto. Jornal Diário da Região.




(SJRP)

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