A economia do Brasil vive uma crise sem precedentes. Há quem justifique a situação calamitosa nacional como um reflexo da luta das grandes potências para dominar o mercado mundial. A divisão do trabalho deixa como herança para os países subdesenvolvidos o papel de fornecedora de minérios e produtos agrícolas de baixo preço. Afinal, nesta conjuntura de aperto econômico internacional, são os compradores que estabelecem quanto querem pagar por produtos sem valor agregado. É verdade que do outro lado a competição entre as nações imperialistas jogam os preços de manufaturados no chão. Mas isso tem um impacto negativo para a tentativa do Brasil desenvolver um parque industrial, uma vez que não tem nem capitais suficientes, nem tecnologia para competir com as nações industrializadas.
O que se espera do novo governo da República é a escolha de um economista capaz de redirecionar a economia nacional para um projeto de industrialização, uma vez que, a compra de manufaturados estrangeiros, sorve o superávit obtido com a exportação dos produtos primários. Há vários candidatos ao cargo. Os militares querem um ministro comprometido com o nacionalismo e que apresente uma política de industrialização. Os detentores do agronegócio, principalmente os cafeicultores, querem alguém que defenda os preços do produto e impeça a bancarrota dos produtores caso a crise mundial derrube as compras do produto brasileiro. Cabe ao recém empossado Presidente da República nomear quem quiser. Não é um homem chegado ao conhecimento de economia, está no poder por ter liderado o movimento que levou todos ao novo governo.
O novo ministro sabe que tem pela frente uma missão ingrata. Desenvolver o país, procurar investidores que acreditem no seu plano econômico e apaziguar os latifundiários. Não é uma tarefa das mais fáceis. Não há investidores internacionais dispostos ao risco Brasil. A ideia do novo ministro é levantar recursos por meio de uma reforma financeira. O modelo é inspirado nos bancos nacionais americanos. A principal mudança implantada pelo recém nomeado Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, é permitir a emissão de moeda com lastro na dívida pública, e não mais no ouro. Os bancos regionais podem emitir moeda e isso acarreta uma verdadeira inundação de dinheiro com o propósito de fomentar a industrialização. O plano é conhecido como encilhamento, uma alusão a apostas em corridas de cavalo. Muitos pseudo-empreendedores correm aos cartórios, fundam empresas, emitem ações e jogam na Bolsa. Muitas dessas empresas recém fundadas são fantasmas, só existem no papel. O sobe e desce da Bolsa incentiva uma especulação desenfreada. Há pânico entre os investidores que compraram ações, elas não têm lastro. Temem não receber o que aplicaram. A inflação toma conta do mercado e vai bater nas panelas vazias das camadas mais pobres, principalmente no Rio de Janeiro, capital do país. O presidente interino, Deodoro da Fonseca, se vê em uma enrascada. Tudo o que não precisa para consolidar o regime republicano é uma crise econômica dessa dimensão.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP
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