sexta-feira, 12 de junho de 2020

COMPORTAMENTO - Desculpa, mas já tenho compromisso: meu celular!


Se você nasceu a partir de 1997, ou tem um filho adolescente pertence à chamada geração Z, sabe que os tempos são outros. O comportamento humano está sempre passando por mudanças e pesquisas recentes apontam que os jovens dessa geração consomem menos bebidas alcoólicas, têm menos relações sexuais e, acredite, preferem ficar em casa a sair, segundo um estudo realizado pela Universidade de San Diego e pelo Bryan Mawe College. Se antes os jovens mentiam para os pais para sair, hoje muitos deles preferem ficar em casa e dão desculpas aos amigos. E qual seria o motivo? As redes sociais.

Para a psicóloga Mara Lúcia Madureira, há, de tempos em tempos, mudanças comportamentais decorrentes das transformações sociais, culturais e tecnológicas. Em cada fase, as novas gerações vão se moldando à realidade. "Jovens dos passado saíam mais porque ficar em casa era entediante e, hoje, é agradável e interessante ficar em casa, explorar os conteúdos digitais, interagir virtualmente. Não há nada de errado nesse comportamento. A preocupação deve existir quando a pessoa tem dificuldade de socialização, baixo rendimento escolar, negligência com a aparência, não interage com familiares e amigos. Nestes casos, o transtorno primário as leva ao isolamento e, as telas assumem o papel de ferramentas para o entretenimento individual como fuga do enfrentamento de situações reais", explica.

A adolescência é uma fase de conflitos emocionais, segundo Mara, com maiores períodos de isolamento e reflexão. Ela afirma que há, sim, uma tendência nessa geração Z em sair menos de casa, consumir menos álcool, tabaco e outras drogas, usar menos dinheiro físico, fazer menos sexo e depender menos dos outros para resolver seus problemas, em comparação às gerações anteriores. É o efeito rebote ou ressaca dos excessos comportamentais insustentáveis, apreendidos na experiências familiares e nas transformações sociais. O isolamento social tem mais a ver com depressão, transtornos de ansiedade, problemas familiares, dificuldade escolar, entre outros, do que com a tecnologia. O abuso da tecnologia é, muitas vezes, a consequência e não a causa de transtornos psíquicos, relações familiares disfuncionais, abuso de álcool e outras drogas e modelos escolares inadequados", alerta.

A psicóloga Mariana Silva Galbiat também afirma que a tecnologia por si só não é causadora de isolamento social, mas pode reforça-la ou aprofundar-la. Nesse mundo conectado, o isolamento cresce a cada dia. E para a especialista, quando os jovens ficam imersos no mundo digital, acabam se desconectando da realidade. "Quanto mais tempo alguém passa conectado, menos tempo ela tem para interações no mundo real, a maior é probabilidade de se sentirem incapazes de estabelecer vínculos afetivos, e passam a ter como 'companheiros' o celular e as redes sociais".

Um dos problemas do excesso de conexão com o mundo virtual, segundo a psicóloga Lara Silveira, é que essa geração utiliza muito a comunicação escrita, e a comunicação verbal é extremamente importante para o desenvolvimento do repertório de habilidades sociais. "O que envolve esse repertório é expressão de sentimentos, falar o que pensa, respeitar a opinião alheia, expressar o que sente, observar as expressões faciais das outras pessoas e isso a gente só consegue adquirir no contato social. É importante dizer que não dá mais para viver sem tecnologia, mas é necessário o uso do bom senso e isso a gente tem percebido na prática clínica que tem se perdido", explica.

Lara ainda diz que estudos mostram que o acesso constante e desenfreado às redes sociais tem causando dificuldade no desenvolvimento e na aprendizagem, aumentando o risco de desenvolvimento de câncer devido à radiação por ter esses aparelhos muitos próximos e aumento nos problemas relacionados à visão.

O isolamento excessivo deve ser motivo de preocupação por parte dos pais e responsáveis, segundo Mariana, isso porque com esse comportamento os jovens passam a maior parte do seu tempo, geralmente dentro do quarto conectados à internet durante horas, surgindo assim outros sintomas característicos da depressão e ansiedade, como: não realizar as refeições nos horários adequados e na maioria das vezes dentro do quarto, a higiene pessoal começa a ficar negligenciada, o quarto desorganizado, os estudos comprometidos, pouca interação familiar, sedentarismo e como consequência obesidade, que pode desenvolver futuras doenças. "Por isso é sempre importante os pais ficarem alertas e esses sinais de comportamento", alerta a psicologa.

A boa notícias é que depressão, transtornos de ansiedade incluindo fobia social e transtornos de ansiedade incluindo fobia social e transtorno do pânico, compulsões incluindo dependência de telas, entre outros, podem ser tratados, segundo a psicóloga Mara. "A questão é manter a mente aberta para o contexto e não colocar a culpa onde quase nunca ela está".

Fonte: Jéssica Reis / Revista Vida e Arte - Diário da Região/São José do Rio Preto-SP.









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