O robô está presente em nossa vida, na nossa sociedade, e parece que a pandemia da covid-19 acelera ainda mais sua presença. Nota-se como em algumas cidades do mundo diversos serviços são efetuados por meio de robôs, tanto na vigilância quanto na prestação de serviços, bem como em restaurantes e, em alguns casos, nos hospitais, tudo isso para se defender do contágio do novo coronavírus.
A robótica se tornou útil para enfrentar a doença e suas consequências, evitando aglomerações e contatos diretos entre as pessoas. Assim sendo, surgem perspectivas de vida em que o uso do robô é cada vez mais ativo, suplantando a atividade humana. A tecnologia vai tomando conta da sociedade, sempre menos humana e mais técnica. Destaca-se, assim, uma relação no sentido ‘a mão única’. O que significa isso?
Inicia-se, nesse sentido, uma exclusão de afeto que provém da escuta e do ficar juntos. E nessa relação do ser humano-máquina se promove o desenvolvimento de uma busca egocêntrica da mesma pessoa. Firma-se, portanto, o primado das certezas individuais sem comparação, de onde advém uma crescente dificuldade em se envolver com o outro. Prosseguindo nessa experiência, não há dúvida de que a pessoa hoje se sente cada vez mais sozinha e, portanto, cada vez mais abandonada.
Além disso, todas as estratificações sociais, políticas ou religiosas são direcionadas para esse modo de ser em que a pessoa se projeta no quadro de uma visão distintamente individualista. Consequentemente, o relacionamento eu-você se traduz no relacionamento eu-eu. A máquina, no entanto, sempre permanece um produto que nunca substituirá a pessoa. Não há dúvida de que o relacionamento homem-máquina se torna tão forte que cria a ilusão do relacionamento com o outro, e essa ilusão depende da crescente incidência da imaginação.
O imaginário está, portanto, se tornando a base da racionalidade do ser humano, na qual a capacidade de pensar é filtrada por esse ato constitutivo da pessoa que terá que encontrar as vicissitudes concretas da vida, experimentará uma crescente perplexidade e uma fragmentação caracterizada pela separação de uns dos outros. É uma época que vivenciamos, na qual a lógica linear e consequencial;
aquela tradicional, ou seja, do papel impresso, está sendo substituída por uma lógica quebrada, típica do discurso publicitário.
Isso tem um impacto significativo nas diferentes condições operacionais da própria pessoa. Assim sendo, os robôs que pretendem substituir as pessoas são estudados e atualizados para poder dialogar melhor com os seres humanos e desenvolver funções mais precisas. E este suporte de inteligência artificial torna-se o objetivo principal do trabalho. É natural a esse ponto se perguntar: qual o futuro do trabalhador humano? Aumenta o desemprego? Como sobreviver numa sociedade onde a técnica domina a humanidade? Estas e outras questões nos interpelam e precisamos dar respostas imediatas para que as pessoas possam ser pessoas e não simples objetos de outros sujeitos artificiais da história.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia/Belém-PA.
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