segunda-feira, 1 de junho de 2020

A GRAVAÇÃO DO PRESIDENTE

O presidente deve ou não ter as gravações que fez no palácio do governo divulgadas pela mídia para a opinião pública  ? O debate pega fogo uma vez que de um lado envolve a oposição e de outro o grupo eleito para conduzir o país por quatro anos. O presidente e seus assessores alegam que as conversas são pessoais e por isso não tem obrigação de divulgar, uma vez que envolvem questões de governo e de segurança nacional que podem abalar a estabilidade do país. A oposição não deixa por menos e dá munição para que a imprensa se aprofunde nas investigações sobre as suspeitas que pesam sobre o chefe do executivo, sua intenção de abafar as investigações, questões inaceitáveis para a manutenção da democracia. O presidente não completa nem bem dois anos de mandato e já se debate abertamente se deve ou não ser submetido a um processo na câmara dos deputados, que pode desaguar em um processo de impeachment e a consequente perda de mandato. Isto é impensável para o grupo que está no poder. A defesa alega que a divulgação das gravações é uma violação da intimidade do presidente.

 Afinal as gravações que  ocorrem no gabinete presidencial, ou em reuniões no palácio de governo é de propriedade pública ou não?  Para responder há no horizonte um conflito dos poderes da república. De um lado o executivo, de outro o judiciário representado pelo supremo tribunal. A popularidade do presidente despenca  e grande parte da população quer ouvir o que contem essas gravações. Os líderes da oposição promovem atos de protestos, debates na imprensa, comícios e passeatas nas ruas de algumas grandes cidades. Os ânimos  se acirram, afinal o presidente tem um mandato de quatro anos legitimamente conquistado com a maioria dos votos dos eleitores, e teoricamente só eles podem tirá-lo do poder. Os analistas políticos não dão trégua e tudo caminha para uma fragorosa derrota do chefe do poder executivo. Não se admite em uma democracia que seja lá quem for esteja acima da lei e a mídia repete que quando alguém assume um cargo público perde parte de sua intimidade, uma vez que há o interesse público e do Estado sobre o conteúdo do que se discutiu no gabinete presidencial.

  O supremo autoriza a divulgação das gravações. Atende uma decisão do poder judiciário. É de interesse público decidem os ministros. Era o que faltava para que o pedido de impeachment fosse aceito no Congresso. As investigações feitas por dois jornalistas ganham uma repercussão nacional. Uma fonte preservada nas reportagens, conhecida como o Garganta Profunda, afirma que o presidente sabe que a sede do partido Democrata foi invadida e os invasores presos instalando microfones para espionar o que a oposição tramava. Agora se discute se a própria reeleição de Richard Nixon foi fruto dessa malandragem ilegal. O jornal The Washington Post que divulgou a invasão do prédio Watergate, sede do Partido Democrata, centraliza as manifestações contra Nixon. Não precisa ser analista político para ver que ele vai ser apeado do poder e o Partido Republicano também. Não há outra saída, o vice Gerald Ford é convocado para assumir a presidência no lugar de Richard Nixon que renuncia para escapar do pior. Sai pela porta do fundo da Casa Branca.


Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP.


Um comentário:

Prof. Wanderley Trentin disse...

Um cidadão até antes de tomar posse em um cargo público, eletivo, tem pleno direito a sua privacidade.
Ao tomar posse torna-se um ente público.
Uma reunião no Palácio do Planalto entre o Presidente da Republica e seus Ministros de ESTADO é para tratar de assuntos públicos. São eles os representantes oficiais e legais da RES PUBLICA.
O que se viu, na realidade, foi uma baixaria, não por conta dos palavrões.
Viu-se ameaças, ofensas, subterfúgios, contradições explícitas, mentiras, etc, etc, etc.

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