O salmo 149 das Sagradas Escrituras descreve os que são fiéis, os justos que se deixam conduzir por Deus. Alegrem-se, portanto, aqueles que acolhem o amor do Senhor, rei do cosmo e da história. Parece que esse salmo é como um hino de libertação do povo de Israel em um período em que o helenismo estava triunfando. Assim os apresenta, o autor desse salmo, como sacerdotes da guerra santa que anseiam pela independência e pela fidelidade à própria tradição.
Diz o salmista: “Exultem os fiéis na glória, alegrem-se em seus leitos”, isto é, nas noites de espera, antes das batalhas. Fiéis que lutam e não têm medo de enfrentar qualquer situação de hostilidade, pelo contrário, se tornam irresistíveis em enfrentar os inimigos, porque têm a plena convicção de serem amparados por Deus: “executando contra eles o julgamento pronunciado. Tal é a glória reservada a todos os seus fiéis.”
Interessante é notar como o autor desse salmo enfrenta a espiritualidade, como a define. Ele descreve o fiel como uma pessoa pobre e humilde. Perante Deus tem que ter essas conotações para poder viver uma presença efetiva do Senhor da História e da Criação. De fato, isto nós encontramos frequentemente nos Salmos das Sagradas Escrituras em que se evidenciam tanto os oprimidos, os pobres, os perseguidos quanto aqueles que são fiéis aos compromissos pela fé deles e da aliança com Deus e, portanto, são excluídos pelos que praticam a corrupção, violência e a ganância e rejeitam Deus e o amor.
Assim sendo, o que podemos entender? Ser pobres não é somente uma categoria social, mas também uma escolha espiritual. Para nós, cristãos, podemos compreender melhor o testemunho de Jesus Cristo, o pobre. A partir dessa ótica a pobreza não pode ser considerada somente uma derrota pelos poderosos desse mundo, dos seus impérios, pelos poderes políticos e econômicos, mas também uma estratégia de confundir o poder do mundo e afirmar a potência de Deus na nossa história. E o salmista não tem dúvidas em reafirmar a claras letras: “Porque o Senhor ama o seu povo, e dá aos humildes a honra da vitória.” Essa verdade permite de aclamar, dizendo: “Cantai ao Senhor um cântico novo, ressoe o seu louvor na assembleia dos fiéis.”
Papa Francisco disse para a quaresma de 2019: “A causa de todo o mal é o pecado, que, desde a sua aparição no meio dos homens, interrompeu a comunhão com Deus, com os outros e com a criação, à qual nos encontramos ligados antes de mais nada através do nosso corpo. Rompendo-se a comunhão com Deus, acabou por falir também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio ambiente, onde estão chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num deserto. Trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se como deus da criação, a sentir-se o seu senhor absoluto e a usá-la, não para o fim querido pelo Criador, mas para interesse próprio em detrimento das criaturas e dos outros. Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco.”
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia.
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