Hoje, com o mundo digital, temos uma nova revolução da comunicação e da convivência. Tenho a impressão de que os principais responsáveis da evangelização não tomaram consciência dessa nova cultura, que não é um prolongamento da cultura passada, mas uma mudança total. Continua-se, por exemplo, evangelizando e praticando uma vida litúrgica teológica-eclesial com uma linguagem totalmente estranha a essa nova cultura. É comum ouvir em ambientes eclesiásticos como é importante o uso dos meios digitais em vigor, mas não percebem o novo modo de ser e nem refletem ou estudam o que esses produzem.
Os meios digitais redefiniram, de maneira radical, o relacionamento psicológico de uma pessoa com o espaço e o tempo. Por exemplo, a pessoa, nesse novo contexto cultural-digital, não é paciente, não sabe esperar, é imediata, além disso, está ligada com o mundo todo, sem fronteiras. A cultura digital harmoniza palavras, sons e imagens simultaneamente. Não só. Esse novo jeito de comunicar dá sentido a tudo. Numa cultura digitalizada não há espaço para uma vivência apática. É sempre técnica e projetada além dos próprios confins. Se vive em uma constante tensão entre o real e o irreal.
Na cultura digital, o pensamento não pode ser freado ou contido, mas se desencadeia sem limites. Eu me pergunto, enquanto membro da Igreja: como anunciar Jesus nesse novo mundo, isto é, como se tornar mais eficaz a Palavra de Deus? Aqui não se pode improvisar nada, mas precisa uma reflexão e planejamento sério, que conheça profundamente essa nova cultura. Precisa conhecê-la por dentro, porque, sem isso, podemos nos iludir e fazer um mau uso do meio digital. Pergunto-me: até que ponto os membros da Igreja estão preparados para essa nova cultura que está tomando conta da nossa realidade?
Podemos também nos perguntar: há lugar para Jesus? É verdade também, se não tem espaço para Jesus, o ser humano não terá espaço. Vimos que a cultura digital é infinita, sem limites. Os valores e os conceitos de como se viviam no passado não têm espaço na atual cultura. Por isso, constatamos também uma instabilidade sociopolítica e, ao mesmo tempo, o reforço e o poder do imaginário. A Igreja se quiser realmente evangelizar tem que passar por tudo isso, saber filtrar a sua comunicação através desses elementos que constituem a nova cultura digital. É para conhecer tudo isso, repito, não se pode improvisar, mas precisa estudar muito, refletir bastante e ser verdadeiros observadores dessa nossa convivência. Nunca esqueço as palavras do finado cardeal Martini quando me disse que para saber lidar com o novo mundo é necessário estudar muito.
Portanto um líder da Igreja, por exemplo, não pode ficar satisfeito em conhecer somente a doutrina, mas é também importante como comunica-la, numa cultura que se evapora com tanta facilidade. Assim sendo, não podemos pensar com superficialidade essa nova cultura, minimizando-a, mas precisamos reconhecê-la como expressão viva das sociedades atuais.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia- Belém-PA.
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