sexta-feira, 3 de julho de 2020

O projeto de Xi e a invasão global do império chinês

Se o leitor deseja conhecer o que se passa na cabeça de Xi Jinping ou  deseja saber como um segregado da Revolução Cultural do ditador Mao Tsé-Tung chegou ao cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista e presidente da China; ou sobre quais são as afinidades entre Xi Jinging e Mao Tsé-Tung; ou ainda como Xi Jinping quer transformar a China num império hegemônico global até 2049, ano em que a revolução comunista do “Grande Timoneiro” completará 100 anos de existência…
Bem, então basta ver “O Mundo Segundo XI”, documentário básico produzido por Arnaud Xainte, bem pesquisado e escrito por Romain Franklin (nome adotado por um dissidente chinês) e pela diretora Louise Mueller, ela própria egressa da Universidade Erasmus de Rotterdam, nos Países Baixos.  Ou melhor: basta acessar o Ipojuca Pontes Online ou entrar no youtube.
Façamos breve retrospectiva: o pai de Xi Jinping, Zi Dhong Chung, membro da cúpula do PCC, caiu em desgraça durante o grande expurgo da Revolução Cultural de Mao. Em meados dos anos 1960, Zi foi acusado de conspiração, sendo execrado  publicamente. (Teve sorte, pois, na degola, mais de dois milhões de pessoas foram exterminadas e outras tantas dadas como desaparecidas).
Aos 9 anos, para escapar das ameaças da repressiva Guarda Vermelha, Xi foi obrigado a denunciar o próprio pai. Na fase da “reeducação”, era obrigado a repetir pelo menos 10 vezes ao dia frases e pensamentos do “Livro Vermelho” de Mao. À época, um membro da Juventude Comunista, Li Datong, escreveu: “Xi quer mostrar que é mais revolucionário do que os demais para provar ser autêntico filho de Mao”.
Aos 15 anos, Xi foi exilado na distante e miserável aldeia de Iang Jare, terra inóspita, onde passou a trabalhar duro. Entre os exilados, era tido como “filhinho do papai”. Tentou várias vezes fugir dos campos de trabalhos, mas, ao retornar, era rebaixado e humilhado diante dos outros. Porém, não chiava. Alguns analistas consideram que Xi, a partir daí, exibiu indícios de que adquirira a Síndrome de Estocolmo, desvio de ordem psicológica que leva a vítima a amar o algoz.
Ao voltar do exílio, aos 22 anos, Xi tentou por diversas vezes ingressar no PCC. Por fim, ao cabo de nove tentativas, conseguiu obter a  carteira do partido. Alinhado fiel, Xi ascendeu rápido e, indicado por um amigo, assumiu o posto de assessor privado do ministro da Defesa. O  biógrafo não autorizado, Wu Jie, explicou a ascensão: “Os líderes do PCC queriam lidar com gente atenta, disciplinada, sem nada de especial,  mas, possuidora de comportamento moldável – papel que Xi cumpria à perfeição”.
Para completar, Xi se casou com Pen Li Yang, célebre cantora do Coro do Exército de Libertação do Povo, mulher de grande prestígio. Segundo a lenda, Li se tornou nas viagens do marido uma espécie de cartão de visitas.  Urbana, foi ela quem ensinou Xi a sorrir, aplaudir, esperar, em suma, se comportar como um liberal, criando a imagem que seduzia as massas.
Em novembro de 2012, sempre  leal aos membros do Politburo, mas especialmente comprometido com o legado de Mao Tse-Tung, Xi assumiu, como presumível, o cargo de secretário-geral do Partido Comunista e, pari passu, ao posto de presidente da China. Muito bem. Mas qual é o legado deixado pelo líder que induziu a China ao desespero com a imposição do fracassado programa “Grande Salto para Frente”?
Eis, em síntese, o legado deixado pelo camarada Mao em documento de natureza confidencial: 1) Ataque aos inimigos; 2) Ataque aos valores liberais; 3) Ataque à democracia; 4) Ataque aos direitos humanos; 5) Ataque a liberdade de imprensa; 6) Ataque a forças estrangeiras; 7) Punição aos traidores; 8) Ataque aos direitos universais do homem; 9) Ataque ao Mundo Ocidental e 10) Luta pela expansão do comunismo.
Para o historiador Kerry Brown, autor de “A ascensão de Xi”, o atual secretário-geral do PCC é produto de uma propaganda partidária extremamente eficaz. Ademais,  integra um sistema que adotou a crença fanática de que a hora da China chegou. Pior: faz parte de um sistema que acredita no poder das armas para cumprir o decálogo de Mao. Não é por outra razão, de resto, que o Império Vermelho dispõe hoje de exército de 2,3 milhões de soldados (o dobro dos EUA) e alimenta uma máquina de guerra colossal que investe bilhões de dólares anuais em armas avançadas e mísseis de última geração.
Em março de 2018, em Pequim, a cúpula do PCC anunciou a mudança da constituição chinesa para tornar Xi Jinping presidente vitalício, prerrogativa só concedida ao ditador Mao Tse-Tung. Na ocasião, o líder do PCC jurou, mais uma vez, preservar os segredos do partido e servir à missão de implantar no mundo um sistema alternativo ao modelo ocidental e cumprir os objetivos maoístas de fazer da China a principal potência econômica, política e militar do planeta.
Por enquanto, a estratégia chinesa para consolidar sua hegemonia sobre a face da terra ainda não passa pela força das armas. Ela se alicerça na expansão da “Nova Rota da Seda”, que consiste em fazer contratos apropriadamente articulados para financiar, em 5 continentes, obras de infraestrutura tais como estradas, pontes, portos, aeroportos, indústrias de informática, telecomunicações etc. etc. – todas voltadas para melhor penetração e distribuição dos seus produtos copiados e feitos por mão de obra escrava.
Com efeito, investindo muitos US$ bilhões em países da África, Ásia, Europa, Oriente Médio, América e até nos EUA, o Império chinês dá largas braçadas para abarcar o mundo. A tal ponto que as revistas Time e The Guardian, ambas amestradas, já apontaram Xi Jinping como o “Homem do Ano”.
Mas nem tudo corre frouxo no avanço estratégico da “Nova Rota da Seda” que o ditador aponta como a “solução chinesa” para os países emergentes. Por outro lado, países como Grécia, Alemanha, Itália, Hungria, Austrália, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, entre outros, já entraram em desacordo com os leoninos contratos assinados com os chineses. O caso do Sri Lanka é exemplar. Atrás de um bom negócio, o país recebeu financiamento para construir um porto. Era um contrato que embutia juros pesados. Como o Sri Lanka não conseguiu pagar o empréstimo a China passou a controlar o porto por 99 anos, arrebentando a soberania do país.
Por sua vez, não esquecendo as soluções bélicas disponíveis, o Império de Xi passou a anexar ilhas dos mares do sul da China e do Pacífico, motivo de renovados protestos e de uma escalada armamentista por parte dos governos da Índia, Japão, Vietnan, Filipinas e da Malásia que se sentiram lesados. Neste sentido, a Índia, que já trava batalha fronteiriça com a China, está mobilizando porta-aviões para proteger as águas no Pacífico.
Na surdina, Xi também invadiu as ilhas Pratley e construiu nas suas vizinhanças plataformas artificiais instalando nelas bases aéreas e navais para fins militares (embora negasse o feito ao tolo vassalo Barack Obama). Com tais invasões, o Dragão Chinês foi condenado pelo Tribunal Internacional de Haia. A resposta do Xi a sanção do Júri foi o solene desprezo.
No capítulo “guerra biológica”, embora negue com veemência ter programado o coronavírus em laboratório de pesquisas biológicas na cidade de Wuhan, a China, ao omitir deliberadamente a existência e a letalidade do vírus, durante semanas, tornou o mundo pior do que o inferno de Dante, infectando até agora mais de 10 milhões pessoas, além de levar o planeta ao caos econômico, político e social. Muito pior: ao sacrifício de vidas humanas aos borbotões. A pergunta que se faz, é: quando será resgatada essa dívida mortal da China com o mundo?
Fonte: Ipojuca Pontes - Diário do Poder.

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