Depois de ganhar o Ocidente com a CB 750, a Honda criou a GL 1000 para as estradas americanas
Nos anos 1970 as fabricantes concentraram esforços no desenvolvimento de motos com cilindrada inédita até então. A Honda liderou o movimento com a 4 cilindros em linha CB 750 de 1969, e foi seguida pelas demais.
Se a 750 havia superado as referências de esportividade europeias, o projeto da GL 1000 Gold Wing conquistaria o gosto americano com mais conforto para longas viagens.
Foi apresentada no Salão de Colônia de 1974, na Alemanha, com motor de 999cc e 4 cilindros opostos. Tinha um direcionamento touring quando comparada a 750, nas medidas maiores, na postura de pilotagem com guidão mais alto e no motor que priorizava a disponibilidade de torque no lugar da potência máxima.
Baixa demanda por manutenção periódica também era uma qualidade da Gold Wing, que usava comando de válvulas acionado por correia e transmissão final por eixo cardã em vez de corrente.
O motor com cilindros dispostos horizontalmente tem a vantagem de reduzir o centro de gravidade, mas o tanque de combustível teve de ser instalado sob o banco para dar espaço à caixa de ar, filtro e carburadores.
Com 2 válvulas por cilindro e o primeiro sistema de refrigeração líquida da marca, desenvolvia 80 cv a 7.000 rpm e 8,4 kgf.m a 5.500 rpm. Comportamento claramente diferenciado da CB 750, que entregava os picos de potência e torque em regimes elevados (69 cv a 8.000 rpm e 6,1 kgf.m a 7.000 rpm).
Ambas atingiam velocidades próximas de 200 km/h, sendo que a GL 1000 pesava 55 kg a mais. Por isso vinha com freios a disco nas duas rodas, sendo o dianteiro duplo.
A Honda só daria um novo passo focado em performance acima da CB 750 em 1978, quando lançou a CBX 1050 de 6 cilindros em linha.
O sucesso da Gold Wing no mercado americano correspondeu às expectativas, absorvendo 80% da produção. Por isso, em 1979, a Honda inaugurou uma fábrica para transferir a produção a Marysville, Ohio.
Um ano antes, a GL 1000 havia recebido as primeiras modificações. Quatro carburadores de 31 mm em vez de 32 mm e guidão mais alto, além da substituição das rodas raiadas pelas então modernas Comstar e das saídas de escapamento por um design atualizado.
Uma grande mudança só ocorreria em 1980, com a GL 1100 de motor ampliado para 1.085cc. O diâmetro dos pistões foi aumentando para render 0,5 kgf.m de torque a mais, sempre com foco nas retomadas de velocidade (a potência subiu apenas 1 cv).
A orientação para o conforto foi reforçada com distância entre-eixos alongada, assento maior e suspensão traseira com ajuste pneumático. Uma versão batizada de Interstate acrescentava carenagem integral (oferecida como acessório em 1979), malas laterais e traseira.
Dois anos depois, a versão Aspencade somou painel com display digital, rádio amador e compressor de ar para facilitar o ajuste da suspensão traseira.
As Harley-Davidson já tinham carenagem e compartimentos para transportar bagagem, mas a Gold Wing sempre levou vantagem pelo motor menos “vibrante” e pelo eixo cardã.
Outras fabricantes japonesas também investiram em modelos touring buscando parte do mercado conquistado pela Gold Wing. Em especial Suzuki GS 1100GK (1982), Yamaha XVZ 1200 Venture (1983) e Kawasaki Z1300 Voyager (1984), descontinuadas em poucos anos, enquanto a Gold Wing segue em produção.
A GL 1200 estreou em 1985 com novo motor de 1.181cc e alimentação por injeção eletrônica que rendeu um salto significativo de performance, passando a 94 cv e 10,7 kgf.m.
Computador de bordo, sistema de som, piloto automático e carenagem passaram a ser itens de série, com itens adicionais oferecidos nas versões Interstate e Aspencade.
Para 1988 a Honda programou uma das maiores mudanças na Gold Wing, que finalmente recebeu um motor de 6 cilindros opostos – configuração usada até agora. O novo motor de 1.520cc era uma nova experiência de pilotagem, entregava 100 cv a 5.200 rpm e 15,2 kgf.m a 4.000 rpm.
Embora o peso seco tenha atingido 360 kg, tinha como aliado na pilotagem o baixo centro de gravidade proporcionado pela disposição horizontal dos cilindros. Um comportamento muito diferente das Harley-Davidson da época, difíceis de manobrar.
Após 12 anos representando o topo da tecnologia disponível no segmento touring americano, em 2001 a GL 1800 foi um novo avanço. O motor de 1.832cc recebeu comando de válvulas por corrente em vez de correia e passou a alcançar 118 cv e 17 kgf.m.
Contudo, o peso do conjunto não foi elevado graças ao chassi de alumínio, portanto houve um ganho real de performance. Os freios ABS foram outra novidade.
Até hoje a Gold Wing é tratada como vitrine tecnológica pela marca e segue evoluindo, tal como demonstra a adoção do primeiro sistema airbag numa motocicleta.
Fonte: Revista Duas Rodas.
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