Evangelho de Marcos 10, 35-45
Esse trecho do evangelho mostra, de maneira bem firme, que o cristão, isto é, o seguidor de Jesus Cristo, não deve pretender fazer carreira nem conseguir privilégios pessoais interesseiros. Quem segue a Jesus tem de ter, isto sim, muita coragem para saber se doar aos outros, servi-los, tornar-se escravo em favor do próximo à imitação do Mestre Jesus e até a cruz. O contexto desse evangelho é o caminho para Jerusalém, onde ele será condenado e crucificado. Jesus estava bem consciente disso. Porém, os discípulos ainda não o compreendiam, conforme o pedido que lhe foi feito: “Concede-nos, na tua glória, sentarmo-nos um a tua direita, outro a tua esquerda”. No entanto, o verdadeiro poder de Jesus é o de fazer participar ao seu calvário, como resgate da humanidade. Portanto, não tem nada a ver com distribuição de lugares de honra, típica da sociedade de ontem e também de hoje. A lógica que toma conta no nosso convívio é quem está mais em alto, mais vale. Para Jesus, é exatamente o contrário: aquele que está em baixo é que conta. O Mestre Jesus foca essa questão, insistindo sobre qual deve ser a atitude dos discípulos para entenderem a caminhada cristã. Por isso, ele diz para não imitar os que “são considerados chefes das nações que as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder”, mas para “ser o primeiro entre vós, seja o escravo de todos; aquele que serve”. Para melhor entender tudo isso, Jesus pede aos discípulos que sejam seus imitadores, “pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir”. É um novo tipo de autoridade, que confunde a autoridade dos ‘homens’. Assim sendo, o Mestre nos convida a planejar a nossa vida, a nossa existência, para que se torne um serviço, uma preocupação para ajudar todo mundo, e não somente àqueles que nós simpatizamos ou são mais chegados conosco. Em poucas palavras, devemos ser incentivadores e promotores da fraternidade, solidariedade sem exclusão de ninguém. O Cristo veio para viver essa fraternidade, solidariedade, revelando-nos assim o amor de Deus bem visível, concreto para todos nós. Esse é o caminho para as nossas comunidades; é nisso que se testemunhará a presença de Deus na nossa realidade. Uma existência essa que muda todo o nosso relacionamento, em particular, o exercício da autoridade, qualquer que seja. De outro jeito, torna-se o nosso viver egoístico, possessivo e autoritário. Mas o ser humano precisa se sentir livre para se sentir ‘senhor’; e o caminho é justamente caracterizado pelo serviço, pela não ambição, pela vida doada e ligada em prol dos outros. Eu pergunto: você tem consciência de qual escravidão o Senhor quer lhe libertar hoje? Como encara a Paixão de Jesus na sua vida? Tem sentido para o seu dia a dia? Deixa-se condicionar por aquilo que sofre por você?
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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