PESQUISA
Qualquer profissional que entenda de pesquisa sabe de antemão que retratam o momento em que foi capturada, podendo mudar conforme as circunstâncias da eleição. Sair na frente é bom para qualquer candidatura, ainda mais quando o candidato vai à reeleição com a gestão em julgamento. Os primeiros números divulgados semana passada sobre a disputa em Rondônia apontaram o governador Marcos Rocha (União Brasil) na dianteira com 31% das intenções de votos, Marcos Rogério (PL) em segundo com 18% e, em terceiro, Léo Moraes (Podemos) com 10%.
APRESSADOS
Os partidários de Marcos Rocha comemoraram efusivamente a diferença entre o governador e os dois concorrentes. Nos grupos de WhatsApp houve quem comemorasse como se a fatura já estivesse selada, três meses antes do pleito. Embora os primeiros números publicados lhe sejam favoráveis, como a disputa ainda não começou de verdade, há o perigo de que em uma outra a ser publicada estes percentuais sejam menores e animem os adversários a comemorarem uma suposta queda. Cantar vitória antecipadamente nunca é recomendável na política mesmo quando os números são favoráveis, uma vez que urna é como mineração: comemora-se somente depois da apuração.
COMPARAÇÃO
Ademais, nas eleições de 2018, quando o desconhecido coronel Rocha surpreendeu com uma votação espetacular, os percentuais a ele conferidos no segundo turno foram de 66,34%, contra 33,66 % de seu adversário Expedito Junior. Se compararmos com os percentuais hoje atribuídos a Marcos Rocha, três anos e seis meses governando Rondônia, verificaremos que perdeu mais da metade do apoio popular que o sufragou governador mais votado na história estadual. É uma perda significativa porque leva a dedução de que aproximadamente setenta por cento dos eleitores não aprovam o atual governo.
SEGUNDO TURNO
Os percentuais auferidos pelo governador, na hipótese de se manterem até dois de outubro, são suficientes para levá-lo confortavelmente ao segundo turno, mas não são suficientes para garantir uma vitória tranquila. Nas eleições 2018, Expedito Junior, adversário do governador, obteve os mesmos percentuais agora conferidos a Marcos Rocha e nem por isto venceu as eleições. Junior conseguiu 31,59%, Marcos Rocha 23,99% e Maurão de Carvalho 22,69%. Quando a campanha em si começar estes números podem mudar para cima ou para baixo, mas podemos intuir é que tanto os percentuais passados quanto os de agora guardam uma certa aparência. Portanto, comemorar antecipadamente é no mínimo temerário.
MONITORANDO
Mesmo com percentuais divergentes, nos monitoramentos dos partidos há coerência entre as posições apuradas dos candidatos. Os percentuais em si, neste momento de pré-campanha, não possuem o condão de influenciar votos nem mudanças de estratégias dos concorrentes. O que vai a julgamento é a administração de Marcos Rocha na saúde, segurança, educação, estradas, infraestrutura, entre outras. Não adianta achar que jogando poeira nos olhos do eleitor ele vai deixar de enxergar para áreas cruciais. É neste monitoramento que os adversários vão se debruçar para mudar as posições nas próximas pesquisas a serem divulgadas. Brigar com números no momento é bobagem, mas baixar a rejeição é indispensável para quem pensa em vencer o pleito.
DISPUTA
Marcos Rocha e Marcos Rogério disputam o apoio do clã Bolsonaro e publicam declarações supostamente de adesões do patriarca e dos varões da família. Rondônia é um dos estados que Jair Bolsonaro ainda é bem avaliado e os dois candidatos ao governo querem surfar no eleitor cativo do presidente. Quem acompanha os dados pesquisados percebeu que os 70% dos votos obtidos em 2018 pelo presidente, agora em 2022, não se repetem. Apesar da queda nos percentuais em relação a eleição anterior, Bolsonaro ainda aparece com uma dianteira razoável do candidato petista. Daí a disputa desesperada dos dois fiéis candidatos bolsonaristas pelo apoio do clã. O perigo nesta estratégia de ambos é a eleição nacional acabar no primeiro turno (algo que os analistas veem como hipótese possível), ocorrendo, provoca estrago naquele que for ao segundo turno uma vez que o discurso de alinhamento se esvaie em si próprio.
DISPARIDADE
Já os percentuais divulgados para senador não guardam coerência nem nos números nem nas posições com o monitoramento dos partidos. Aliás, são totalmente díspares, embora seja uma única vaga em disputa totalmente ainda aberta. Em 2018, Marcos Rogério somente apareceu em segundo lugar na última pesquisa nacionalmente divulgada, abertas as urnas, consagrou-se em primeiro com mais de cem mil votos do segundo, Confúcio Moura, até então o imbatível do pleito. Reside aí uma vaga que está boiando à espera de um candidato que caia nas graças do eleitor.
CORAGEM
O voto do senador Confúcio Moura (MDB) contra a limitação da cobrança do ICMS para os combustíveis e derivados foi ostensivamente criticado pela imprensa local e por vários grupos políticos. A carga extorsiva de impostos cobrados no país exige uma reforma ampla que o Congresso Nacional não consegue colocar na pauta. O senador rondoniense poderia perfeitamente ter votado favorável ao projeto para colher aplausos, como muitos colegas de bancada o fizeram, mas optou pela escolha mais polêmica e mais criticada. No varejo Confúcio pode ter errado em diminuir imposto e no atacado pode ter acertado por enxergar naquele projeto um arremedo que serve tão somente ao calendário eleitoral. Um dias após a aprovação, os combustíveis voltaram a aumentar e ninguém garante que diminuam. É possível que Confúcio Moura esteja certo e os críticos todos feitos bois berrando à toa. Foi um voto corajoso!
DEMAGOGIA
Calcula-se que o estado deixará de arrecadar R$ 650 milhões com a perda de arrecadação do ICMS dos combustíveis. É uma conta que vai pesar nos investimentos no ano de 2023, uma vez que a compensação não é imediata nem se estenderá ao próximo exercício fiscal. O governador Marcos Rocha fez um vídeo apoiando a limitação da alíquota. É possível que seja apenas um apoio eleitoreiro que impactará substancialmente nas finanças estaduais, no entanto, o cidadão extorquido com a carga tributária estadual agradece. Demagogia eleitoreira ou não é um alento pagar menos impostos.
GENERAL
É cômico assistir o governo insistir em interferir na política de preços dos combustíveis quando é o responsável pela indicação do presidente da Petrobras, o mesmo que agora, o governo demoniza. Mais engraçado ainda é que o diretor indicado por Bolsonaro e antes dele, o defenestrado era um general. Um membro das gloriosas forças que dão sustentação ao seu governo. Já são quatro presidentes da Petrobras que são removidos por não atenderem às ordens do capitão. Ordens que, internamente, vão continuar a ser ignoradas. Seja o dirigente militar, seja civil.
TCE
Depois que a Assembleia Legislativa rejeitou o nome indicado pelo governador para a vaga no Tribunal de Contas do Estado, ninguém mais falou sobre um substituto e o Tribunal de Contas continua desfalcado de um membro. Se Marcos Rocha optar por deixar para indicar após as eleições, dependendo do resultado, é possível que a vaga seja preenchida por um indicado do próximo governador. Ou indicada por deputados derrotados nas urnas.
TUCANATO
O PSDB é hoje em Rondônia um partido reduzido a quase nada pela revoada que aconteceu das principais lideranças para outras legendas em março passado. Nem Hildon Chaves, prefeito da capital, aceitou reorganizar o partido e filiou a esposa, Ieda Chaves, ao União Brasil. Com a saída dos medalhões o mais antigo tucano no ninho, ex-prefeito José Guedes, aproveitou a oportunidade para se lançar candidato a governador. É um cidadão da melhor qualidade que deixou a política para se reciclar profissionalmente, embora a forma pela qual se apresentou como provável candidato seja superada pelo tempo. O PSDB é hoje um arremedo de partido com lideranças envelhecidas pela exaustão das urnas.
LANÇAMENTO
O PSD realizou um evento em Cacoal para apresentar os candidatos da legenda, com a presença do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Marcos Rogério (PL), aliado da turma, compareceu ao evento e reforçou intenção de juntar as legendas numa composição estadual. Esta união ainda vai provocar muita polêmica na formação da chapa majoritária.
ARTIGO
O jornal paulista O Estadão publicou um artigo escrito pelo advogado e professor rondoniense Diego Vasconcelos e pelo professor Guilherme Freitas, no Blog Fausto Macedo, onde abordam os indicadores antecedentes à judicialização no Brasil. É uma leitura obrigatória para alunos e operadores do direito. Diego é um dos melhores quadros da advocacia estadual e um intelectual formulador de teses que rendem bons debates na academia.
Fonte: Jornalista Robson Oliveira / Porto Velho-RO.
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