As pesquisas divulgadas provocam polêmica no país e no exterior. Instituições independentes duvidam dos métodos utilizados e apontam uma clara manipulação dos resultados. Há quem diga que elas são fortemente influenciadas por manobras com o objetivo de impedir que as respostas não favoráveis ao presidente sejam ocultadas nas divulgações. As publicações das enquetes apresentam dados incompletos e distorcem os resultados apresentados em publicações anteriores. Nem todos contestam as pesquisas, uma vez que como o país está envolvido em uma crise profunda não é o momento de enfraquecer o chefe na nação. Seria até mesmo um ato de antipatriotismo, uma traição no momento em que todos devem estar juntos. O desemprego aumenta continuamente com o fechamento principalmente na área de comércio e prestação de serviço. A má imagem do país afasta os turistas que, nem mesmo com a forte desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, se dispõem a vir ocupar os hotéis, museus, lojas e locais históricos. Boa parte dos analistas não sabe quais as medidas que o governo deve tomar, principalmente para garantir a popularidade do presidente. Mas este insiste que isso é vital para a nação.
Institutos independentes no exterior enfatizam que o que se faz não é uma pesquisa, mas uma enquete, sem uma metodologia científica. Muito mais um instrumento de propaganda do que uma constatação do que pensa a população dos graves problemas vividos. Há quem afirme que há um envolvimento direto do presidente na maioria das publicações, apoiado pela burocracia encastelada no governo. Nem mesmo a Câmara dos Deputados tem se disposto a discutir abertamente os resultados, sempre favoráveis ao governo, e às medidas que toma. O noticiário da mídia em geral é considerado deturpado uma vez que, principalmente as emissoras estatais, evitam todo tipo de crítica que possa atingir a figura presidencial e seu governo. O jornalismo chapa-branca é pouco confiável, e faz lembrar os tempos em que o país vivia sob uma poderosa ditadura controlada pela elite burocrática e militar. Os veículos independentes ou da oposição são manietados, jornalistas que ousam buscar fontes confiáveis sofrem todo tipo de ameaça e alguns são levados aos tribunais, condenados a multas e até mesmo ao cárcere.
A imprensa internacional publica insistentemente notícias que não se encontram na mídia nacional. Em outros tempos, o governo teria bloqueado esse noticiário sob o pretexto de que o mundo vivia em uma Guerra Fria e se aplicava a máxima que diz que os que não estão comigo estão contra mim. A palavra guerra tornou-se um anátema. É impronunciável publicamente e na mídia. O que o presidente quer é que se rotule a cruel invasão da vizinha Ucrânia com o eufemismo “operação militar especial”. Poucos ousam desafiar o todo poderoso Wladimir Putin. Casos isolados são registrados no exterior como o da jornalista que invadiu o noticiário da tevê de maior audiência à noite com um cartaz pedindo o fim da guerra. Hoje ela trabalha exilada na Alemanha. Outros veículos simplesmente sumiram, como o Novaya Gazeta do jornalista premiado com o Nobel da Paz, Dmitry Muratov. Em geral, a figura de Putin é apresentada sempre de modo favorável – com destaques para sua ameaça de retaliar a Europa por ajudar a Ucrânia e por intimidar o mundo com uma terceira e última guerra mundial nuclear caso a Otan se envolva diretamente na guerra, ou melhor na operação militar especial. As pesquisas divulgadas insistem que a opinião pública russa apoia a intervenção para “desnazificar” e proteger a população de cultura russa no leste da Ucrânia. Graças às manobras dos institutos e à pressão pessoal de Putin, a sua popularidade nunca ficou abaixo dos 60%. Já o site independente Proeck divulga que essa popularidade baixou para 40%, assim mesmo considerada alta diante das pressões ocidentais com o fechamento de empresas, a desvalorização do rublo e a queda das commodities russas, como o petróleo e os fertilizantes. O governo russo explora todas as possibilidades de ilustrar a figura do Putin, ex-agente da KGB, ora como um resistente às ameaças militares da Otan, ora como um defensor dos povos eslavos, que necessariamente não estão nas fronteiras da Federação Russa, resume o Midiatalks, com sede em Londres.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP.
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