No começo do século passado, a Vincent HRD 1000 já acelerava em busca de inimagináveis 200 km/h
Fotos Giacomo Favretto
A Vincent está no seleto hall daquelas marcas de vida curta, apenas 27 anos em fabricação entre 1928 e 1955. Mas o caráter inovador bastou para gravar seu nome na história da motocicleta.
Especificamente a 1000, que foi a motocicleta mais rápida de sua época, tem lugar reservado como objeto de desejo de qualquer colecionador de modelos europeus pré-guerra.
A fabricante foi criada na Inglaterra por Philip Vincent ao comprar a HRD e renomeá-la Vincent HRD. Reputação começou a se destacar com o lançamento de novos projetos desenvolvidos com motores próprios de 500cc e 1.000cc, a partir de 1934.
A HRD já tinha tradição como fabricante de motos vencedoras de corrida. Era uma criação do ex-piloto de aviões da 1ª Guerra Mundial Howard Raymond Davies, que comprava os motores da JAP.
Phil Vincent não se esqueceu das raízes da HRD, e inicialmente as três letras tinham destaque maior na pintura do tanque. Mas não foi só a conveniência de aproveitar o nome estabelecido, pois a marca manteve o foco em corridas e modelos de performance acima da média.
A decisão de desenvolver motores próprios veio da participação fracassada no TT da Ilha de Man em 1934, quando não terminaram a prova por causa de problemas no propulsor. Assim a equipe projetou o primeiro 500cc, de 1 cilindro, batizado de Meteor. Produzia 26 cv e levava o modelo Comet a 140 km/h. Foi um sucesso entre pilotos de corrida, que podiam comprá-la nas versões TT e Special (com buzina e conjunto de iluminação para as ruas).
Criação mais emblemática da marca foi o projeto seguinte, unindo dois cilindros em V, separados por apenas 47,5°, resultando numa 1.000cc. A Rapide do final de 1936 usava o chassi da Comet adaptado e alongado para acomodar o novo V2, rendia 45 cv e permitia à moto de 200 kg alcançar 180 km/h.
A evolução do modelo, a Rapide série B, só foi possível dez anos depois, com o término da 2ª Guerra – a Vincent integrou a produção britânica de munições e motores para as forças armadas.
Na série B um bloco único passou a acomodar motor e caixa de câmbio, o ângulo entre os cilindros passou a 50° e o chassi incorporou o propulsor em sua estrutura, sustentado pelo tubo superior (que também acomodava óleo), uma engenharia considerada surpreendente na época.
A série C veio apenas dois anos depois incorporando um novo garfo dianteiro e a icônica versão esportiva Black Shadow, que recebia ajustes no motor pintado de preto para entregar 10 cv a mais (55 cv) e ultrapassar a então inimaginável barreira de 200 km/h.
A Black Shadow reforçou o mote de fabricante das motos mais velozes já propagado pela Vincent e se diferenciava também pelo grande velocímetro central que marcava até 150 milhas por hora (240 km/h).
Uma versão de corrida batizada de Black Lightning foi ainda mais longe, removendo tudo o que não era necessário para as pistas e substituindo componentes de aço por outros de alumínio para reduzir o peso em mais de 30 kg.
Somente no fim da década de 1940 o nome HRD foi removido, restando “The Vincent” no tanque (quase sempre) preto.
A produção artesanal e em pequena escala da Vincent se viu ameaçada por prejuízos na década de 1950 e num último esforço a fabricante montou e distribuiu na Inglaterra ciclomotores da alemã NSU.
Fechou em 1955, mas o título de moto de série mais rápida do mundo só foi perdido na década de 1970 com o advento das multicilíndricas japonesas.
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