quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

AMAZONAS 1600 TINHA MOTOR VW E O TÍTULO DE MAIOR DO MUNDO

 

Estradeira nacional dos anos 1970 foi alternativa na época de proibição das importações


No final da década de 1970 o brasileiro podia comprar apenas motos produzidas no país. A medida protecionista do governo militar acabou com a fartura de opções importadas, incluindo as desejadas 4 cilindros japonesas. Nossa indústria ainda engatinhava, por isso a produção local se concentrava em modelos de baixa complexidade tecnológica.

A exceção era a Harley-Davidson Electra Glide 1200 montada em Manaus (AM) pela Motovi com peças importadas pela Zona Franca. O preço estratosférico para a maioria dos brasileiros mantinha valorizados os modelos japoneses de alta cilindrada usados.

Essa falta de opções levou os mecânicos Luiz Antônio Gomide e José Carlos Biston à criação de uma moto estradeira nacional usando motor Volkswagen 1500 refrigerado a ar. Nascia a maior motocicleta de sua época, que tinha até ré!

Gomide e Biston levaram mais de um ano para montar artesanalmente a Motovolks, como foi apelidada inicialmente. O chassi dessa primeira unidade aproveitava partes de americanas antigas Indian e Harley-Davidson, além de peças automotivas já existentes. Rodaram mais de 100.000 km realizando apenas a manutenção básica.

Seria esse o diferencial da futura Amazonas, uma moto de alta cilindrada de manutenção simples que não dependia de peças importadas. Apesar das medidas avantajadas, a instalação de motor boxer numa moto não foi novidade. A BMW se notabilizou pelos 2 cilindros opostos, mas o conceito foi levado a outro nível com 4 cilindros VW.

A Auto Importadora Ferreira Rodrigues se interessou pelo projeto de fabricação, e no ano seguinte um protótipo com melhorias mecânicas e estéticas ficou pronto. Painel e comandos elétricos eram do VW Passat, farol de caminhão Mercedes-Benz, cáliper do freio de Ford Corcel, discos de VW Variant...

Após aprovação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, a primeira Amazonas foi testada por Duas Rodas em junho de 1977. “O conjunto é bastante estável e com bom equilíbrio, mas conduzi-la no trânsito intenso é relativamente cansativo por seu peso, dimensões e o acionamento duro da embreagem”, relatava a reportagem.

Em 1979 a gigante brasileira recebeu o motor de 1.584cc, que gerava 56 cv a 4.500 rpm e 10 kgf.m a 3.000 rpm, alimentado por um tanque de 30 litros. O torque superdimensionado para uma moto da época facilitava a aceleração dos 407 kg (ordem de marcha), até em 2ª marcha. A velocidade podia não impressionar, mas conforto e torque tornavam as viagens agradáveis.

Nos testes realizados por Duas Rodas em 1983 a Amazonas 1600 acelerou de 0 a 100 km/h em 9 segundos e atingiu 160 km/h. O preço correspondia a quatro Honda CG 125, ou cerca de R$ 40 mil em valores atuais. A exclusividade do projeto e o baixo custo para uma moto de alta cilindrada despertaram interesse para exportações à Europa e até Estados Unidos.

Vendida em 1986 para o empresário Guilherme Hannud Filho, a marca das extravagantes 1600 continuou por mais dois anos. Até outubro de 1988 foram produzidas 450 unidades da Amazonas. Uma centena vendida para polícias e exército, apenas oito equipadas com sidecar e algumas com motor ampliado para 2.275cc foram exportadas para os Estados Unidos.

O fim da Amazonas não colocou um ponto final nessa história. Gomide e Biston projetaram outra moto com motor VW 1600, uma evolução da Amazonas com chassi de aço estampado, transmissão por eixo cardã e suspensão traseira monobraço.

Mais leve e potente, a segunda criação da dupla brasileira foi batizada de Kahena (rainha guerreira árabe do século 7) e lançada no Salão do Automóvel de 1990. Teve versões com estilo cruiser americano e com carenagem integral, mas no fim da década a produção foi encerrada devido à concorrência de modelos importados cada vez mais acessíveis diante da valorização do Real.

 

Ficha técnica

Motor: 1.584cc, 4 cilindros opostos, 2 válvulas por cilindro, comando no bloco, refrigeração a ar

Diâmetro x curso: 85,5 mm x 69 mm

Taxa de compressão: 7,2:1

Potência: 56 cv a 4.500 rpm

Torque: 10 kgf.m a 3.000 rpm

Alimentação: 2 carburadores

Câmbio: 4 marchas e ré

Chassi: berço duplo em tubos de aço

Suspensões: garfo telescópico na dianteira e biamortecida na traseira

Pneus: 5.00-16 na dianteira e na traseira

Freios: 2 discos com pinças de 1 pistão na dianteira e disco com pinça de 1 pistão na traseira

Peso: 407 kg (ordem de marcha)


Fonte: Revista Duas Rodas.



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