A celebração do Santo Natal na pandemia nos deixa bem tristes e mais medrosos. Perante uma realidade de incertezas da vida o nascimento de Jesus nos fala de uma vida que tem coragem de olhar além de tudo que nos aflige e nos abala.
Ele se torna pequeno para ser acolhido por todos nós que estamos passando esses momentos da nossa história tão assustadora. Nosso Deus é sábio em nos ajudar a compartilhar sua divindade compartilhando a dramaticidade da nossa vida.
É nisso que consiste nossa dignidade. Somos atraídos para essa verdade. Essa experiência de fé marca a nossa história. Portanto, imitando os pastores queremos anunciar nesses momentos difíceis boas notícias. Notícias animadoras, confortantes que fazem esperar grandes coisas, horizontes novos e sem fim. Incentivar novas relações sociais, comunitárias e familiares mais justas e fraternas.
Porém, em muitas ocasiões, quanta falta de transparência em tudo isso! Podem ver que as problemáticas, as dificuldades de se entender, os conflitos que surgem em consequência disso, tornam-se quase como uma denúncia da nossa não correta ação de vida. Assim sendo, creio que é necessário imitarmos aqueles pastores. Hoje em dia, estamos vivendo um bombardeio de informações, sobretudo nas redes sociais, mas tudo isso nos leva a ter um conhecimento real e verdadeiro da realidade ou cria mais confusão na nossa cabeça, favorecendo mais conflitos pessoais e sociais? E aquela gruta onde nasceu o Menino Jesus? A humildade e a simplicidade revelam um fato extraordinário de Deus que se rebaixa até nós.
Pergunto-me: se Deus se torna presente na nossa vida com total humildade, por que nós não podemos estar juntos despojados de qualquer arrogância, soberba, altivez? O Altíssimo se faz presentíssimo, não desprezando a nossa realidade, mas, ao contrário, compartilhando conosco o seu grande poder porque é preocupado com a nossa vida. Então, como queremos caminhar com os outros para compartilharmos aquilo que somos? Temos a coragem de nos rebaixar para favorecer os outros? A onipotência do nosso Deus, por incrível que pareça, se manifesta nessa capacidade de entrar na nossa vida. Uma verdadeira e transparente convivência é totalmente humilde porque quer favorecer a vida e, sobretudo, de quem mais necessita. É solidária e fraterna. Não é uma elucubração de palavras e pensamentos, mas de testemunho de vida.
Aquele silêncio recolhido daquela gruta emana uma magnífica e poderosa comunicação: a vida não tem limite. Quantas vezes não sabemos priorizar o silêncio, e sobretudo hoje em dia quando estamos recolhidos, isolados por causa dessa pandemia, temos medo de estar sós. No entanto, no nascimento, Deus não fez manifestações de praça, barulhos de palavras, não tocaram
tambores, ao contrário de nós, quando queremos mostrar algo de importante usamos todos os possíveis meios que estão ao nosso dispor para contar o evento da nossa vida.
Deus prefere comunicar no silêncio, porém, nós preferimos comunicar com barulhos. Que diferença! Creio que esta grande solenidade do Santo Natal possa se tornar para todos um momento de reflexão sobre como podemos aperfeiçoar a relação entre nós nesses tempos difíceis.
Feliz e Santo Natal.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia / Belém-PA.
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