quarta-feira, 16 de agosto de 2023

PAINEL DE IDEIAS - El Helicoide

Mas a história mudaria drasticamente os rumos do Helicoide. O Shopping, nunca foi concluído. Virou um elefante branco. Nos anos 80, o Serviço Bolivariano de Inteligência - SEBIN - foi transferido para o prédio.

Década de 1950, um país da América doSul se destacava por sua pujança. Dono de uma das maiores reservas de petróleo conhecidas, chegou ao quarto maior PIB per caita do planeta. Seus cidadãos eram conhecidos pelo bom padrão de vida. Eram os maiores consumidores de whisky do mundo, superando até a Escócia. Assim era a Venezuela. O Governo resolveu construir um grande edifício  para ser o símbolo da modernidade do país: El Helicoide. Emformato de irâmide, seria o único shopping drive thru do mundo.Rampas permitiriam que os carros chegassem a todos os andares. Os consumidores estacionariam em frente às lojas e restaurantes. Teriam ainda um hotel cinco estrelas. No alto de uma colina, poderia ser visto de qualquer ponto de Caracas. Não havia nada parecido em toda a América Latina.

Mas a história mudaria drasticamente os rumos do Helicoide. O shopping nunca foi concluído.Virou um elefante branco. Nos anos 80, o Serviço Bolivariano de Inteligência - SEBIN - foi transferido para o prédio. Oficialmente, seria uma agência de informação e inteligência, para o governo tomar suas decisões. Na prática, tornou-se uma arma do regime, usado contra aqueles que ousassem constestar a ditadura. Logo o Helicoide começou a receber priosioneiros. Locais destinados às lojas se tornaram celas. Com o tempo, o número de presos foi aumentando. Ônibus chegam lotados de detidos. Às vezes, até crianças e idosos. Um desses presos foi Rosmit Mantilla, ativista político e defensor dos direitos LGBT. O regime não tolerava discordânias, viesse de onde viesse. Protestos contra o governo eram motivo suficiente para ir parar no Helicoide. Mantilla ficou preso de 2014 a 2016. Quando saiu, foi eleito deputado e passou a narrar os horrores que ocorriam, e ainda ocorrem, no prédio. Seus testemunhos, e de outros presos que por lá passaram, contam sobre torturas, sufocamento com sacolas, choques elétricos na cabeça, no estômago e até nos testículos. Há relatos de estupros coletivos, de pessoas que tiveram a cabeça mergulhada em fezes.

Fora do presídio, a Venezuela passou de quarto maior PIB per capita do mundo ao país maispobre da América do Sul, com 87% da população vivendo na pobreza. Nos útlimos anos, 7 milhões de refugiados deixaram o país por causa da fome e da escassez. Muitos deles vieram para o Brasil. Vários podem ser visto pedindo ajuda e emprego nas ruas de Rio Preto, além de outras cidades.

Por qualquer ângulo que se olhe, a violação de direitos humanos de pessoas pobres, mulheres, crianças, idosos, minorias em geral, é enorme. Dias atrás, o ditador do páis, Nicolás Maduro, esteve no Brasil. Enquanto era recebido com honras, abraços e palavras de apoio, 245 presos políticos estavam no Helicoide. Na saída, um de seus agentes deu um soco na mulher e jornalista Delis Ortiz, da Rede Globo. Não se viu protesto das barulhentas entidades de defesa de direitos humanos ou movimentos feministas. A imprensa pouco reagiu. O ditador voltou pra casa com certeza de quem o apoio do maior país da América do Sul.





Fonte: Sérgio Clementino / Promotor de Justiça em São José do Rio Preto-SP. Jornal Diário da Região.




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