segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

EDITORIAL - Não é 'mimimi'

A coragem de Zé Neto ao expor sua condição só comprova a máxima de que os problemas de saúde mental não escolhem sexo, idade, cor ou renda

Celebridade nacional, rico e bem-sucedido, o cantor sertanejo Zé Neto supreendeu os fãs ao anunciar que cancelou um show no último dia 21, que seria realizado em Santa Cruz do Rio Pardo, devido a uma crise se ansiedade.

Zé Neto foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade e encaminhado para avaliação na Santa Casa. "Fizeram os medicamentos e infelizmente constataram  que não dava para eu fazer o show, porque eu estava 'grogue', afirmou o sertanejo nas redes sociais.

A coragem de Zé Neto ao expor sua condição, que ainda é vista com inacreditável preconceito por muitas pessoas, só comprova a máxima de que os problemas de saúde mental não escolhem sexo, idade, cor ou renda. E precisam ser tratados, em casos mais agudos, como doenmça. Zé Neto não foi a única celebridade  a falar abertamente sobre transtornos mentais nos últimos anos: a multicampeã de ginástica Simone Biles e a cantora Lady Gaga também tornaram públicas crises de ansiedade e estresse pós-traumático.

É preciso parar de tratar esse assunto como "mimimi". No ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulou um relatório apontando que, em 2019, quase um bilhão de pessoas - incluindo 14% dos adolescentes do mundo - viviam com algum tipo de transtorno mental. Ainda segundo a OMS, pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média de 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis - incluindo suícídios.

Somente no Brasil, estima-se que 18 milhões de pessoas convivam com crise de ansiedade. Em Rio Preto, relatório da Secretária Municipal de Saude aponta aumento gradativo de casos desde 2019, quando 2.379 pacientes fizeram tratamento contra ansiedade nas unidades públicas do município, número que saltou para 4.534 em 2021. E a crise de ansiedade é apenas uma ponta dos problemas de saúde mental, que incluem quadros como mal-estar psicológico, estresse, depressão e esquizofrenia.

Desde o dia 1º a campanha do Janeiro Branco trabalha com a quebra de estigmas em relação a pessoas que possuem algum tipo de transtornos ligado à saúde mental. Tão importante quanto tratar dessas doenças, que podem ser pontuais ou envolver quadros permanentes, é combater a discriminação acerca deste tema.

A boa saúde mental se traduz em boa saúde física, e essa condição tem reflexos na vida familiar, profissional e na sociedade como um todo. Aceitar que qualquer pessoa, independentemente de sua condição social, possa estar sujeita a transtornos mentais é o primeiro passo para que casos de ansiedade e depressão possam ser tratados de maneira responsável, curando e salvando vidas.

Fonte: Jornal Diário da Região.



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