O fato de um grupo extremista chegar ao poder coloca em risco as demais democracias liberais
"Liberdade, essa palavra/que não há ninguém que explique/ e ninguém que não entenda" - Cecília Meireles em "Romanceira da Inconfidência". As imagens das pessoas no aeroporto de Cabul, se segurando a um avião que iria decolar, em uma tentativa desesperada de deixar seu país, me deixaram atordoado. É impossível mensurar o desespero de alguém que faz algo do tipo.
Presumo que todas aquelas pessoas já foram de alguma forma vítimas do Talibã. A pessoa pode ter tido um irmão, um primo, um pai, vizinho, ou um amigo, que foi vítima do grupo extremista. Quanto as mulheres nem se fale, o estado de coisas as quais as mesmas foram submetidas no período em que o grupo ocupou o poder, certamente é um dos mais nefastos na história do país. Não consigo imaginar um mundo onde as mulheres não estudem, não trabalhem, e não escolha as pessoas com que terão relações sexuais.
A situação é pertubadora, não apenas para os afegãos, mas também para todos os defensores das democracias liberais. Segundo documento da OTAN otido pela Radio Free Europe, no ano fiscal que se encerrou em março de 2020, o Talibã faturou US$ 1.6 bilhões. Esse valor oferece ao grupo independência financeira, consequentemente capacidade bélica. De acordo com relatório da ONU de junho desse ano, a maior fonte de receita do grupo está em atividades ilegais, como sequestros, tráfico de drogas, extorsão e produção de ópio.
Segundo o mesmo relatório, o grupo teria faturado US$ 464 milhões em mineração nas regiões sob o seu controle no Afeganistão. O relatório ainda cita que o grupo extremista recebe doações de uma rede de fundações não governamentais e outros apoiadore ricos, essas doações chegam a quase US$ 200 milhões por ano, segundo o Centro para Estudos Afegãos. Além dos afegãos estarem sendo vítimas de uma ditadura, que por si só já e muito grave.
O fato de um grupo extremista, que pratica terrorismo, e muito bem amparado financeiramente chegar ao poder em um país, e a comunidade internacional não fazer nada a respeito, coloca em risco as demais democracias liberais. Ditadores têm ódio das democracias e querem vê-las esmagadas. A comunidade internacional sempre soube que existia uma parceria entre o Talibã e a al-Qaeda, grupo responsável pelos ataques de 11 de setembro. Os afegãos são um povo muito sofrido, e verdade seja dita, o vislumbre que tiveram de viver em uma democracia nos últimos anos foi com a intervenção norte-americana. Em 2004 foi a primeira vez que os afegãos foram às urnas desde 1969. Só em 2005 as afegãs entraram para a política. Não estou dizendo que os EUA sejam os bonzinhos da história, até porque não há bonzinho nesse contexto. Bin Laden é uma criação norte americana do contexto da Guerra Fria. Assim como o Talibã não é o único grupo extremista e armado em atividade no mundo.
O que nós liberais precisamos entender é que o problema do povo afegão, é também um problema nosso. As ditaduras não apenas destroem as pessoas quando as matam, mas também quando lhes impedem de ter uma vida normal. Os sonhos são ceifados, e uma menina que poderia se tornar uma médica e salvar uma vida, não o fará. Espero que nossos líderes se mostrem mais fortes do que tem se mostrado para lidar com extremistas, até porque, os fracos são incapazes de defender a libedade.
Fonte: Matheus Kruger - Jornal Diário da Região / (Postagem realizada na cidade de São José do Rio Preto-SP).
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