A Kawasaki se transformou em uma marca de fama mundial quando começou a criar modelos que elevaram os parâmetros performance vigentes. Uma história que tem início no final dos anos 1960 com o primeiro motor de 3 cilindros e 2 tempos da marca.
Para se estabelecer nos mercados ocidentais, em especial nos Estados Unidos, a Kawasaki tinha que superar concorrentes de até 2 cilindros e 650cc como Triumph Bonneville, BSA Super Rocket e a pequena, mas eficiente, Honda CB 450 também inspirada pela escola de engenharia britânica. A local Harley-Davidson Sportster era uma exceção, com o V2 de 900cc cuja performance não sobressaía.
Na época, a escalada de número de cilindros e capacidade cúbica não havia se iniciado com a inovação que seria lançada pela Honda CB 750 em 1969. A Kawasaki também tinha a série W inspirada nas britânicas de 2 cilindros paralelos, mas sabia que a solução não estava ali.
Estabeleceram que a leveza dos motores de 2 tempos seria o melhor caminho para atingir uma relação peso/potência que impressionasse os americanos e permitisse ficar abaixo dos 13 segundos na tradicional prova de aceleração de quarto de milha (400 m). Outro fator que reforçava essa escolha era o objetivo de lançar o novo modelo com preço competitivo, entregando mais por menos do que a concorrência já estabelecida.
Assim nasceu a Kawasaki H1 500 Mach III, no final de 1968. Era rápida e acessível, ainda com freios a tambor e dirigibilidade bem limitada pela instabilidade em altas velocidades. Autêntica “cadeira elétrica”.
Os 3 cilindros em linha receberam um cuidado especial da Kawasaki com a refrigeração, afastando-os mais que o usual e adotando componentes separados. Eram independentes, portanto o ar circulava ao redor dos três. Outra singularidade estava nas saídas de escapamento assimétricas, uma à esquerda e duas à direita.
Tinha câmbio de 5 marchas e seus 60 cv a 7.500 rpm eram impressionantes para a época, permitindo o quarto de milha na casa de 12 segundos e a velocidade máxima acima de 180 km/h. Era mais rápida que a maioria dos muscle cars americanos, por uma fração do preço: US$ 999.
A H1 500 foi a moto mais potente do mundo até o lançamento da Honda CB 750 mostrar que, para competir, as concorrentes de 4 tempos teriam que recorrer a mais cilindros e capacidade cúbica. Custava US$ 1.495 e rendia até 67 cv a 8.000 rpm.
Duas linhas de ação foram tomadas pela Kawasaki para responder ao lançamento da Honda. Uma ampliação de 50% no motor da H1 e um novo modelo de 4 tempos com 4 cilindros, que seria a Z1 900 DOHC, ambas a serem lançadas em 1972.
A Kawasaki H2 750 Mach IV recebeu freio dianteiro a disco de 295 mm com pinça de 2 pistões opostos na dianteira e a cilindrada aumentada de 498cc para 748cc. Produzia ainda mais impressionantes 74 cv a 6.800 rpm e o torque máximo passava de 5,85 kgf.m a 7.000 rpm para 7,9 kgf.m a 6.500 rpm. A concorrente Suzuki havia desenvolvido a GT 750 também com 3 cilindros de 2 tempos, adicionando a refrigeração líquida, porém não superava os 70 cv; e a Yamaha tinha a TX 750 com 2 cilindros de 4 tempos que rendiam apenas 63 cv.
Na prática, a H2 original (que cedeu o nome à Ninja H2 atual) completava 400 metros partindo da imobilidade em exatos 12 segundos, uma vantagem de quase meio segundo sobre a H1. Só não era mais rápida na aceleração porque a H2 ficou 18 kg mais pesada, mas superava os 200 km/h.
A estabilidade continuava deficiente na H2, mesmo após a instalação de um amortecedor de direção. Seguiu em produção até 1975, quando as normas de emissões já limitavam a continuidade dos motores de 2 tempos e a Kawasaki decidiu reservá-los à nova família KH de 3 cilindros com 250cc e 400cc.
Os modelos de alta cilindrada teriam apenas grandes motores de 4 tempos, encerrando a história de uma moto que ficou famosa não por seus problemas de estabilidade, mas por seu grande poder de aceleração.
Fonte: Revista Duas Rodas.
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