sábado, 9 de novembro de 2019

SÍNODO DA AMAZÔNIA

O Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia começará neste domingo, dia 6, e terminará dia 27, no Vaticano. O tema é “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Por que a Amazônia tem um Sínodo? O que é um Sínodo? Umas informações prévias sobre a região amazônica: ela é muita extensa e tem 7,8 milhões de Km², e, se quisermos comparar, a Europa toda que tem 10,180 milhões. Estamos bem próximos. Portanto, dimensões imensas.

Aqui temos também uns 3 milhões de indígenas pertencentes a 390 grupos diversos. Então, o que é o Sínodo? Da origem da palavra, quer dizer ‘caminhar juntos’. Sempre a Igreja, desde as suas origens, andou juntos, às vezes com dificuldades, mas sempre guiada pelo Espírito Santo e conduzida pelos seus pastores com o primado de Pedro, isto é, do papa. Todos os bispos da Amazônia junto ao papa, são convidados do Vaticano, com representantes daquela terra e com o Espírito Santo realizam o Sínodo “especial”.

O Sínodo é uma expressão de verdadeira colegialidade. Nessa colegialidade, que não prevalece nenhuma forma e conteúdo de pontos de vistas ideológicos, se busca discernir a vontade de Deus, manifesta por Jesus Cristo, na vida da história dos povos amazônicos.

Eu posso testemunhar com a minha vida, enquanto missionário por mais de quarenta anos nessas terras, a importância de discernir a vontade de Deus e como, de fato, se está vivendo o projeto de Deus nesse solo verde. Deus entregou ao patrimônio humano uma terra rica de florestas, de águas, de flora, fauna, mas os povos que ali existem, sobretudo os povos indígenas, estão sofrendo e não conseguem viver uma harmonia com a própria natureza.

Grandes projetos que, aparentemente parecem promotores de vida, se tornam uma ameaça para o equilíbrio da convivência entre o ser humano e a própria natureza. Inúmeras vezes pessoas de idade me falaram: “Padre, antigamente, quando era bem jovem, tínhamos tudo; não faltava peixe, caça, fruta, açaí, farinha, criação de galinhas e muitas outras coisas, e agora tudo é escasso. Mudou tudo, padre, quando começou aquela estrada. A nossa vida era tranquila, sossegada. Não tínhamos tantos papeis de comprovação de propriedade, mas todos nos entendíamos e nos respeitávamos. Agora que chegaram os negócios tudo mudou, e até o relacionamento entre nós mudou.” E acrescentou: “Uma vez, eu falei para o senhor juiz, ‘dr. eu não tenho documentação dos terrenos, mas posso comprovar com os calos das minhas mãos de tanta trabalhar, com os calos na minha cabeça de tanto carregar os produtos da roça...’”

A vida dos amazônicos é o testemunho de mudanças radicais de vida na Amazônia. Perderam aquele habitat do passado para se revestir de uma realidade não própria pra eles. Perderam a harmonia com a natureza. Por isso, a Igreja não pode evangelizar se não ouvir o clamor dos povos que nela existem. Como uma mãe que se preocupa com o filho, assim é a Igreja que se preocupa com os povos da Amazônia. O amor da Igreja a torna mais próxima deles para defendê-los e ajuda-los. Uma tenda armou entre eles.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote e doutor em teologia - Belém/PA.



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