A manifestação ocupa a maior parte das avenidas centrais da capital da república. A multidão aglomerada nas praças pega de surpresa boa parte dos políticos e da mídia conservadora. Os comícios se sucedem com a presença de líderes sindicais e populares. Querem que o presidente da república continue no cargo, mesmo tendo cumprido o seu mandato. Um golpe dentro do golpe clama a oposição. O que o mundo político espera é a realização de eleições livres, sem a interferência dos militares. Estes, como sempre, estão atentos às disputas e os rumos que o Brasil pode tomar. Vez por outra um general do exército dá declarações na imprensa e alerta para o perigo vermelho, ou seja da comunização do país, um fenômeno que assombra as elites de todo continente latino americano.
A economia não vai bem. A inflação atinge principalmente as camadas mais pobres da população. Nem mesmo os operários, com carteira de trabalho assinada, se sentem seguros diante das incertezas da economia mundial. As fontes de fornecimento de petróleo estão em ebulição, os mares não são seguros para o transporte de mercadorias e produtos agrícolas. A tensão internacional prejudica a economia brasileira e os investimentos estrangeiros simplesmente somem. Preferem o risco de investir na recuperação da economia europeia, uma vez que os Estados Unidos injetam lá bilhões de dólares. Segundo especialistas da geopolítica, é uma barreira para impedir a expansão da Rússia no ocidente. As exportações do café, há algum tempo, não seguram mais os saldos favoráveis na balança de pagamentos do Brasil. Nem mesmo a exportação de minérios e outros produtos estratégicos conseguem obter dólares no exterior para financiar as importações. Com isso a indústria não de moderniza, fica sucateada e muitos trabalhadores são demitidos. O exército de mão de obra disponível aumenta continuamente.
O grito de ” fica presidente ” surge como uma tábua de salvação. É verdade que a constituição em vigor no país precisa ser renovada. Não serve mais para o ideal democrático-liberal sonhado pela burguesia industrial e os donos do agronegócio. Para tanto, é preciso convocar uma assembleia constituinte, com eleições livres. Até aí todos concordam. Mas os movimentos sindicais e de esquerda, entre eles o Partido Comunista de Luis Carlos Prestes, são favoráveis que o ditador Getúlio Vargas continue no poder. Constituição com Vargas é o slogan que mais tarde fica conhecido como Queremismo. Queremos Vargas. Este por sua vez percebe que os ventos que sopram em 1945, fim da segunda guerra mundial, não sopram a seu favor. O nazi-fascismo é derrotado e com isso as ditaduras inspiradas neles estão com os dias contados. O mês de agosto é o mês da crise. Berlim cai nas mãos dos russos. A assembleia constituinte brasileira está convocada. E o ditador brasileiro equilibra-se no cargo. Tem o apoio inclusive de Prestes, a quem manteve preso durante vários anos do Estado Novo. Restam os militares. Liderados pelo ministro da guerra, General Dutra, depõem Vargas, que é desterrado para a sua fazenda no Rio Grande do Sul. Finda a ditadura, começa a era dos presidentes liberais.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP
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