Tenho a impressão de que as incertezas e a autodestruição estão dominando nosso tempo. Tempo de mudanças antropológicas que focam um novo relativismo. Os papas, e sobretudo Bento XVI, denunciaram esse perigo. Um perigo que pode levar às ideologias totalitárias e autoritárias e que, por sua vez, pretendem ser donas da verdade. A nossa Igreja, defensora da verdade em Jesus Cristo, não pode ficar calada perante esse perigo das ideologias totalitárias. Ideologias essas que querem dominar desde o campo religioso até o campo politico e social.
A campanha contra a conduta do Sumo Pontífice, papa Francisco, por exemplo, é sustentada por uma ideologia totalitária, porque o vê como um perigo para os poderosos que, sobretudo, querem celebrar, perpetuar o presente como absoluto, abrindo assim movimentos reacionários. Com essa lógica do presente absoluto, não tem espaço para Deus, pelo menos o Deus que Jesus Cristo nos revela, porque Ele criou a realidade temporal absoluta que vai além do presente, do passado e do futuro. Com essa lógica e realidade de Deus, a vida do ser humano deve ser avaliada na totalidade e, portanto, dar vida a diferenças e manifestações de pessoas.
Nesse sentido, por exemplo, uma economia que não favorece uma solidariedade e fraternidade foge dos tempos de Deus e favorece um presente absoluto que beneficia uns e exclui outros. Também, em nível político, a tendência é privilegiar uns, deixando de lado uma maioria. Perante um cenário desse tipo, a Igreja não pode ficar calada, mas deve proclamar a grande verdade que Deus é o absoluto. Ao Deus que tudo lhe pertence. Um Deus que é Pai e que favorece todos os filhos e filhas, sem excluir ninguém. Uma ideologia do presente absoluto gera divisões, exclusões, materialismo.
Não tem mais espaço para Deus, mas, sim, para um deus que não ouve e não fala. Diria a Palavra de Deus: um deus dos pagãos. Tenho a impressão que no nosso tempo prevalece um deus dos pagãos e o Deus de Jesus Cristo é considerado muito perigoso. Assim sendo, podemos constatar que o aspecto humano esteja muito enfraquecido, justamente porque o Deus verdadeiro se tornou uma experiência de vida do passado ou pelo menos está ausente no momento presente. E a Igreja não pode ficar ausente num cenário como esse. Não pode ficar apartada.
A Igreja tem uma grande responsabilidade de proclamar a Palavra de Deus, de educar, de edificar na fé e da promoção humana. Formar as consciências sócio-políticas dos fiéis, convidando-os a uma nova responsabilidade pessoal ao redor dos valores do evangelho. E
perante essa crise que marca o nosso tempo, que é fruto também da passagem da era industrial à era tecnológica, de um mundo fechado nos próprios confins a um mundo globalizado, a Igreja que caminha com o mundo se sente cada vez mais envolvida.
Por tudo isso, a Igreja não pode ficar calada perante concepções antropológicas e políticas inconciliáveis com os pontos de vistas da Palavra de Deus sobre o ser humano e sobre a sociedade. É urgente evitar um ‘presente absoluto’ para valorizar todas as pessoas.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia.
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