quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

LOUVAREI O SENHOR DE TODO O CORAÇÃO

Lendo o salmo 110 das Sagradas Escrituras me lembrei do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Transcrevo aqui somente estes versículos, para melhor entender. São Francisco reconhece a grandeza de Deus e, portanto, precisa louva-La e reconhece-La. “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina. Ele é belo e radiante, com grande esplendor; de Ti, Altíssimo, é a imagem. (...) Louvai todos e bendizei o meu Senhor! Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!” É um convite para todos nós a vivermos essa verdade. Agora leia atentamente o salmo.

"Aleluia. Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. Sua obra é toda ela majestade e magnificência. E eterna a sua justiça. Memoráveis são suas obras maravilhosas; o Senhor é clemente e misericordioso.

Aos que o temem deu-lhes o sustento; lembrar-se-á eternamente da sua aliança. Mostrou ao seu povo o poder de suas obras, dando-lhe a herança das nações pagãs. As obras de suas mãos são verdade e justiça, imutáveis os seus preceitos, irrevogáveis pelos séculos eternos, instituídos com justiça e equidade.

Enviou a seu povo a redenção, concluiu com ele uma aliança eterna. Santo e venerável é o seu nome. O temor do Senhor é o começo da sabedoria; sábios são aqueles que o adoram. Sua glória subsiste eternamente."

O salmo inicia com ‘Aleluia’ e logo em seguida descreve a celebração da ação de Deus na história da salvação. Uma presença de Deus feita de grandes obras que chamam a atenção da humanidade que o ama. Aqui, encontra-se, na verdade, a revelação de Deus através da aliança com o seu povo Israel: desde o êxodo até o Sinai. Tudo caracterizado por obras, justiça, grandes prodígios, a aliança, o direito, a redenção, a piedade, a compaixão de Deus; no entanto, Israel responde com a fé e a celebração litúrgica. O grande memorial. Nesse sentido, reconheço que os nossos irmãos mais velhos, os judeus, nos ensinam a importância de viver a memória do passado no presente.

Hoje se sou aquilo que sou é também mérito daquele passado que caracterizou a história do presente. Assim, é evidente o meu louvor. Para que tudo isso aconteça é preciso ama-Lo, reconhece-Lo qual protagonista da nossa história. O desenho universal de Deus para a nossa salvação, de toda a humanidade, não acontece de maneira somente secreta, isto é, no espírito dos homens. E, sobretudo, para nós, cristãos, Deus decidiu enviar na história o seu Filho assumindo a nossa realidade de carne. O Deus ‘Santo e terrível’ está entre nós e se revela a todos nós com o dom da ‘Aliança’, da fidelidade e da redenção.

E daqui nasce o hino de louvor do fiel e aquele ‘Aleluia’ alegre que se manifesta na oração de louvor. Com essa dimensão de reconhecimento, permite-os enaltecer a própria vida e ter horizontes sem fim. Por fim, o papa Francisco falou na homilia durante missa na capela Santa Marta do dia 05.02.2018, reportada pelo ‘Osservatore Romano’. “O povo levava consigo a própria história, a memória da eleição, a memória da promessa e a memória da aliança. E com esta carga de memória aproximava-se do templo. Não só: o povo, acrescentou Francisco, levava também «a nudez da aliança», isto é, simplesmente as duas tábulas de pedra, nua, assim como tinha sido de Deus e não como a tinham aprendido dos escribas, que a “barroquizaram” com tantas prescrições. Aquele era o seu tesouro: a aliança nua: amo-te, amas-me. O primeiro mandamento, amar a Deus; segundo, amar o próximo. Nua”.

Depois, continuou o Pontífice, “com aquela memória de eleição, da promessa e da aliança, o povo sobe e leva a aliança. Ao chegar em cima quando eram todos idosos, levaram a arca, introduziram a arca no santuário e na arca nada havia exceto as duas tábulas de pedra. Eis a «nudez da aliança». E no excerto bíblico lê-se que quando os sacerdotes saíram, a nuvem encheu o templo do Senhor. Era a glória do Senhor que fazia morada no templo. Naquele momento, explicou o Papa, o povo entrou em adoração, passando da memória para a adoração, caminhando em subida. Assim começou a adoração em silêncio. Eis o percurso realizado pelos Israelitas: dos sacrifícios que faziam no caminho em subida, ao silêncio, à humilhação da adoração. E àquela experiência na qual se antecipa a vida no céu, acrescentou, só podemos chegar com a memória de termos sido eleitos, de ter dentro do coração uma promessa que nos impele a ir, com a aliança na mão e no coração”.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação - Belém/PA.




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