Italiana resgatou a nostalgia pela marca no Brasil dos anos 1980 e vendeu quase o mesmo que a Yamaha
A história da Vespa no Brasil é quase tão longa quanto a da própria marca italiana. O simpático scooter data de 1946, e chegou ao país já na década seguinte. Foi montado pela carioca Panauto nas versões M3 e M4, respectivamente de 3 e 4 marchas, sempre com motor 150cc de 2 tempos. A operação no bairro de Santa Cruz durou de 1958 a 1964, seguida de uma década de ausência no país.
O retorno da Vespa ao Brasil aconteceu durante a instalação da indústria nacional de motocicletas, a partir de 1974. Na época, a B. Forte passou a montar a versão 150 Super na Zona Franca de Manaus (AM). Foram quase dez anos de atividade, até que uma sociedade se formou incluindo Caloi e Piaggio (proprietária da marca Vespa). A nova empresa Motovespa foi criada para impulsionar a expansão das operações no país, e conseguiu.
Hoje um ícone da marca, o então recém-lançado modelo PX foi escolhido para capitanear a nova fase de crescimento. Tinha linhas mais modernas, com vincos e um conjunto óptico que destacava as luzes de direção retangulares na cor âmbar. Outra novidade era o motor de 198cc com ignição eletrônica. A Vespa PX 200E mantinha a tradição de modelos anteriores, com câmbio de 4 marchas engatadas pelo giro da manopla esquerda. Na traseira rechonchuda, tampas cobrem o estepe do lado esquerdo e o motor à direita da roda.
Em dezembro de 1985, Duas Rodas testou pela primeira vez o novo modelo e ressaltou a evolução representada pela PX. “Quem já conduziu uma Vespa antiga ou mesmo uma Lambretta sentirá muita diferença. Para melhor, porque o modelo atualizado tem o motor mais potente disponível na Itália (lá existem as de 80, 100, 125, 150 e 200cc) e é bem mais estável e seguro que os antigos.”
O primeiro teste alcançou a velocidade máxima de 104 km/h. Elogiava principalmente o torque em baixas rotações e a capacidade de poupar trocas de marcha pelo condutor. Foi um sucesso de vendas em 1986, ameaçando a vice-liderança da Yamaha em alguns meses.
O interesse do público animou a fabricante nacional Motovespa a expandir a linha para o ano seguinte, com três versões. A topo de linha Elestart (partida elétrica), a intermediária GT e a básica S, estas duas diferenciadas pelo acabamento. A partida elétrica era um dos componentes importados, assim como virabrequim, cárter, carburador e embreagem. Pelas regras de nacionalização da Zona Franca na época isso correspondia a 15% da composição da Vespa brasileira.
A Vespa se mantinha “cult” e nostálgica, o que a permitia manter um público cativo que não cogitava comparações com os novos scooters japoneses. Era um produto que tinha personalidade, mesmo que tecnicamente já estivesse defasado. No exterior, concorrentes como o Honda Elite – seria importado para o Brasil na década de 1990 com o nome Spacy – já usavam motor de 4 tempos com câmbio automático, consumiam menos gasolina e entregavam melhor dirigibilidade.
O sucesso de vendas de 1986 nunca se repetiu, diminuindo já em 1987 e despencando para um terço daquele volume em 1988. Iniciou-se um processo de decadência e fechamento das 140 concessionárias, até que a produção no Brasil foi interrompida em 1990. Algumas lojas ainda venderam o estoque de unidades 0 km em 1991, totalizando 45 mil PX brasileiras. A marca só retornaria ao país anos mais tarde, importada, usando tecnologia equivalente à das asiáticas. O modelo PX continuou à venda na Europa até a saída de linha definitiva depois de mais de 30 anos.
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