Logo que cheguei a Belém, ouvi várias histórias de dor que o covid-19 provocou e está provocando na vida de muita gente. Gostaria de narrar somente um testemunho que quer representar a situação de toda a humanidade, não somente das pessoas que moram em Belém do Pará. Encontrei na missa a dona Alice, uma senhora de grande fé e fiel praticante da Igreja. Como sempre, estava na primeira fila. Ela tem pouco mais de 80 anos. Seus olhos brilham de fé. Ela me contou seu drama: “Padre Claudio, por que tudo isso? Por que Deus quis o marido, dois filhos... Por que morreram? Padre, é muita dor, não sei até quando vou aguentar! Meus filhos estavam com saúde e de repente foram para hospital e não voltaram mais. Por que isso, meu Deus?”
A dor de uma mãe perante a morte inesperada e repentina dos filhos é difícil de compreender. Mas o nosso Deus responde dizendo: “Alice, não sou eu que tiro as vidas, não fui eu que criei a morte, aliás, eu estou muito preocupado com isso. Também eu sofro, choro perante essa realidade de não vida. E por isso que mandei o meu Filho Jesus, o Cristo, para resgatar essa realidade de morte. Você se lembra, minha filha Alice, que eu tinha feito tudo certo e bom, mas, improvisadamente, Adão, a humanidade, achou que não precisava me obedecer mais; e que devia continuar a vida como se fosse ela a dona de tudo, que tinha a capacidade de fazer tudo sem mim. Mas eu que conheço tudo, que amo aquilo que criei, não quero perder a minha obra de criação. Então, Alice, mandei o meu Filho Jesus Cristo para resgatar o que eu fiz. Mandei Ele para substituir aquele Adão desobediente, e Ele, Jesus, foi obediente até o fim. Porém, para entender melhor isso, Alice, te lembras quando Maria, a mãe de Jesus, estava de baixo da cruz, assistindo aquele imenso sacrifício do Filho e se perguntava também o porquê de tudo isso? Mas depois se lembrou de umas palavras de Jesus, o novo Adão obediente, que disse: ‘Se um grão de trigo que cai no chão não morre não pode nascer e produzir frutos’. Aí Maria renovou a confiança em Deus, embora que humanamente fosse difícil. Alice, tem que fazer como Maria, que ficou contemplando Jesus na cruz, revivendo toda a sua vida e testemunho. Aí nasce a esperança que a morte é como um grão que cai na terra e depois grelará. Querida filha Alice, continue crendo em Jesus Cristo, o meu Filho amado. É somente assim que se vai destruir o ódio, a violência, a morte, as guerras, as desigualdades, os preconceitos, a ganância, o egoísmo, as mentiras, as cobiças, entre outras. Somente assim viveremos.”
As doenças, as tragédias podem até aumentar e ameaçar mais ainda se nós não formos obedientes ao Deus que tudo gerou. A verdadeira vida é fruto de fraternidade, de justiça
e perfeita convivência entre o ser humano, a natureza e o cosmo. Se nós não perseguirmos isso, poderemos somente ser desobedientes a Deus e geradores de ameaças e de perspectivas de não vidas. Então a dor, o sofrimento, nos toma conta. A dor e o sofrimento são fruto do conjunto da humanidade e não de Deus. É a humanidade toda responsável. Assim sendo, vamos resgatar a nossa obediência a Deus, que é não submissão, mas colaboração com Deus, reconhecendo-O verdadeiro protagonista de toda a criação. Vivendo assim, teremos mais esperança e confiança Nele, encararemos a nossa vida bem diferente, embora possamos passar pelas cruzes da vida. Como Nossa Senhora de baixo da cruz teremos forças para crer em uma vida sem fim.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia / Belém-PA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário