sexta-feira, 27 de março de 2020

O PRECIOSO DOM DA LIBERDADE

Todo ser humano quer ser livre. A liberdade exalta a humanidade. Ela é um dom precioso, tão precioso que permite ao ser humano sonhar sem fim. A liberdade permite ir além dos próprios confins, confere à humanidade dimensões planetárias, cósmicas. Quando vejo que as pessoas se sentem tão restritas ao seu próprio mundo, então demonstram que se iludem de ter liberdade. Vivem talvez uma falsa liberdade. Por que se chega a essas ilusões de liberdade? Creio que uns dos fatores seja o condicionamento, qualquer um que seja.

Isto provem quando não se tem um profundo conhecimento da realidade, quando não se tem a capacidade de dar uma lógica entre causa e efeito. O analfabetismo da nova cultura digital, inclusive, já tão enraizada na nossa sociedade, provoca também uma falta de liberdade. Por quê? A verdade é que ninguém ensina os novos alfabetos das novas linguagens audiovisual e digital, tanto as estruturas do ensino público quanto as realidades eclesiais. Estamos desprovidos dessa educação digital.

No entanto, estamos vivendo, respirando o tempo todo uma tecnologia que gera essa nova cultura. Uma cultura totalmente nova. Estamos preparados, na maioria dos casos, a um uso dessa tecnologia moderna, mas não há uma preparação para decifrar esses novos alfabetos que enviam toda hora mensagens direta e indiretamente. A recepção dessas mensagens é aquilo que complica. Só pra se ter uma ideia, nunca refletiram o porque, na maioria das vezes, se tem muita dificuldade de dialogar.

Por que as pessoas tem dificuldade de conviver, se compreender? Quantas vezes para conseguir estar juntos, caminharmos juntos, se fica calado ou se evita tocar argumentos espinhosos, árduos? Cada um se fecha no seu ponto de vista e não consegue compartilhar outros pontos de vista. Às vezes, ainda, o outro é uma ameaça, perigoso. Mas por que tudo isso? Pode-se dizer numa só palavra: isto é ignorância. Ignorância de saber comunicar numa cultura diferente que estávamos acostumados.

Assim sendo, necessitamos de um conhecimento real das novas linguagens que geraram essa cultura. Não é suficiente saber usar uma tecnologia, embora que possa ser super avançada e eficiente, mas é urgente ter um conhecimento profundo das consequências que tem no pensar e agir do ser humano no cotidiano. O tempo e o espaço hoje, que constituem a vida, não têm mais as concepções da era analógica. As informações e comunicações, hoje em dia, são suspeitas. Não se tem mais a certeza da verdade.

Tudo isso provoca uma desconfiança geral em que prevalece um egocentrismo. Portanto, a verdade se torna egocêntrica. Então, é licito se perguntar: até que ponto se constrói a liberdade se não se sabe ir além do próprio eu? Que liberdade se pode viver assim, se outros devem depender do meu ‘eu’? A nossa sociedade é totalmente desconfiada. Então, eu me pergunto: como se pode construir laços de fraternidade e solidariedade numa realidade assim? Como promover a liberdade de um país em um contesto de ignorância e desconfiança?

Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote e doutor em teologia / Belém-PA.


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