sexta-feira, 30 de abril de 2021

O HORIZONTE COMUNICATIVO

Vivemos em um mundo de crescente globalidade, cada vez mais conectado e sempre mais dividido. As redes sociais, que são extensões do nosso corpo (um exemplo disto é o celular), modificam não só o nosso comportamento, mas também a nossa mentalidade, que é cada vez mais sensível e ativa em relação às imagens, a nossa organização lógica, diminuindo também a nossa capacidade intuitiva. Essas redes geram conhecimento, cultura, estilos de vida e coexistência entre os povos. O que Marshall McLuhan já tinha dito com a sua famosa frase "o meio é a mensagem", tornou-se realidade. Como responder às exigências da dignidade humana, do bem comum e às perguntas frequentes sobre a utilização destes instrumentos midiáticos e da própria comunicação?

E a globalização será o "fim da história" como Francis Fukuyama disse? Ou, como afirmou Huntington, levará a reivindicações nacionalistas e/ou identitárias crescentes que fragmentarão ainda mais o mundo conhecido hoje com "confrontos violentos entre civilizações”? Neste horizonte, polarizado entre as exigências universalistas (na visão de Fukuyama) e as exigências de identidade (na visão de Huntington), a procura de uma forma de sentir, de viver, de ver o mundo capaz de se abrir aos outros sem degradar a sua própria identidade cresce ainda mais. Surgem duas questões centrais: como governar a globalização? Como integrar as duas instâncias?

A resposta a estas duas perguntas pode ser encontrada na mesma palavra: linguagem.

A linguagem, a comunicação, como disse Bergson, é tanto instrumento quanto obstáculo. Através dela podemos encontrar soluções ou criar problemas.

"Comunicar" vem do latim communicatio, que tem em si a palavra munus, dom. Isto torna claro que a própria comunicação é uma relação de doação entre duas partes, e que esta doação é precisamente a partilha de algo de si mesmo para o outro, tornando-o de alguma forma um participante do “eu”. Pode-se ver como o carácter doador do conceito de "comunicação" emerge também através da língua alemã: a palavra mitteilung indica precisamente a partilha, ou seja, pôr em comum, criar um espaço. E é precisamente

ao criar um espaço de dom que o ser humano se expressa plenamente, de uma forma livre e engenhosa que não pode ser meramente estudada atrás de uma mesa, mas precisa ser vivida. A comunicação autêntica, de fato, é agir ricamente nessa caridade que não é apenas um testemunho, mas também a construção do Reino de Deus.

A partir daqui, como podemos colocar a necessidade de universalidade em diálogo com a necessidade de diversidade? Por meio da linguagem. Ou melhor, da comunicação, que por definição é a partilha de uma universalidade de duas diversidades: o polo comunicante, que tenta adaptar-se, e o polo receptor, que tenta interpretar. É fundamental ter presente nesta reflexão que a comunicação não é um meio, ou seja, que não é apenas um instrumento, mas também e, sobretudo na sua essência mais profunda, um local de encontro.

Além disso, neste processo é-nos pedido que nos afastemos de uma lógica de imediatismo, de um sucesso mensurável a um nível instantâneo, para abraçar mais um caminho progressivo, que parte de uma partilha eficaz e tem em conta as várias áreas particulares, com respeito e consciência. Na prática, não existem princípios universalmente válidos e monolíticos, porque não é certo que sejam realmente aceites, nem pode haver imposição como base de comunicação: envolvimento e abertura são centrais, de ambos os lados, mas particularmente do lado a partir do qual é mais fácil de programar.


Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote e doutor em teologia / Belém-PA.







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