quinta-feira, 18 de junho de 2020

O 'NOVO NORMAL' - Hábitos que serão mantidos pós quarentena

Recuperar receitas de família, reler livros, cuidar das plantas e do corpo: hábitos que serão mantidos


Isolados dentro de casa e com mais tempo para atividades que antes eram mais difíceis de fazer, os rio-pretenses esperam seguir com os novos hábitos adquiridos durante a quarentena quando a rotina 'voltar à normalidade', se é que tudo voltará a ser como antes. Cozinhar mais, reler livros ou cuidar de plantas e flores, a ideia é que tudo feito durante o isolamento seja mantido ou adaptado à rotina, mesmo que os horários sejam readaptados.
"Alguns hábitos sendo mantidos pós pandemia contribuirão para um melhor civismo e relações interpessoais mais humanizadas. O 'novo normal' deve ser levado em conta, uma vez que a vida em sociedade considerará a mudança dos hábitos que ocorreram", afirmou Raphaella Petkovic, coordenadora nas ETECS de Rio Preto e Mirassol e professora de psicologia e psicoterapeuta.
Segundo a profissional, os estudantes falam sobre valorizar mais os núcleos familiares e as relações interpessoais, além de aprenderem a lidar com tecnologia. Hábitos de higiene também estão entre os interesses dos estudantes para o mundo pós pandemia.
"As pessoas ressignificaram suas atitudes, prestaram mais atenção à alimentação e exercícios visando uma vida mais saudável, o que afeta tanto adultos e idosos, como os jovens, além de aprenderem a valorizar mais as pequenas coisas. Valores que em um mundo dominado pela tecnologia tinham se perdido com o tempo e foram retomados se valendo da mesma tecnologia que um dia colocou-os de lado".
Receitas
Há três meses sem comer carne, a estudante de direito Isadora Martins colocou em prática várias receitas veganas e vegetarianas. A ideia é manter as atividades gastronômicas mesmo com o fim do período.
"Tenho dois amigos que são e eu sempre perguntava como era, o que comiam. Certo dia acordei e não tive vontade de comer carne. Sempre me esquivava e foi um processo natural. "Acho necessário levar esse hábito para minha vida, como um dogma, algo que eu adquiri no meu tempo e o que eu entendi do processo".
Ela se sentiu mais conectada com a natureza, leve e com o corpo em equilíbrio. Tem feito hambúrguer e sopa de grão-de-bico, torta de shimeji, bolinho de arroz e strogonoff de palmito. "O desafio é achar receitas e adaptá-las. Mas o principal é o valor absurdo de carnes, snacks veganos ou lanches que se pede em fast food, então acabo fazendo o prato em casa mesmo. Isso é bom porque aprendi várias receitas. Aprendi também que grão-de-bico tem que ficar três horas de molho se não a casca não sai e você passa três horas tirando uma por uma".
O engenheiro Fabiano Maceno Vetorasso tem um livro de receitas de 1942 da avó Zulmira Pelegrine, escrito à mão por ela com dicas e receitas. Com a quarentena, tem colocado em prática seus dotes gastronômicos e pretende levar para depois.
"Retomei alguns hábitos que eram familiares. Sempre cozinhei e gostei de planta, mas nesses dois últimos meses me aproximei mais de cultivar meus vasos, trouxe plantas para dentro de casa e também comecei a fazer bolos", comentou Fabiano.
Foram ao menos 15 bolos durante a quarentena, com amigos, familiares e vizinhos presenteados. A ideia não é transformar isso numa profissão, mas ocupar a cabeça. "Vou conciliar o trabalho com a cozinha, como se fosse uma terapia extra, no sentido de ser uma coisa que te faz bem e é para você. Seja no final de tarde ou quando acordar, o momento não será exato, tanto para cozinhar quanto para regar as plantas", disse.
Arquivo Pessoal
Com as férias escolares durante a pandemia, a professora de português e inglês Manuela Graton Marcello passou a quarentena relendo clássicos da literatura. "Me ajudou a ter uma ocupação diferente e relevante nessas horas vagas. Então resolvi reler essas obras para não ficar refém das séries", disse Manuela.
Entre as obras relidas estão Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marquez, Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Na lista dos próximos estão Ensaio sobre a lucidez e A viagem do elefante - ambos do português José Saramago.
"Pretendo continuar com as releituras após as férias, mas não com o mesmo ritmo, por causa do trabalho. Mas me surpreendi. É outro entendimento, porque são livros que gostei muito e acho que merecem uma releitura depois de certo tempo. Sem contar que depois de alguns anos nosso entendimento e percepção mudam", avaliou a professora.
Arquivo Pessoal
O estudante de medicina Leonardo Clínio sempre gostou de desenhar, mas apenas na quarentena conseguiu tempo para aprimorar as técnicas e focar mais em suas obras. Agora, pretende levar o hobby mesmo com o fim da quarentena. “Vou manter porque como estou tendo aula online, os horários estão praticamente os mesmos, e já se tornou hábito estudar um pouco, ver vídeos sobre desenhos e fazer uns rabiscos antes de dormir. É algo sustentável e saudável, e que não interfere na minha rotina da faculdade”.
Com técnicas aplicadas para fazer o olho humano, Leonardo tem aprendido por conta própria a adaptar seu talento. “Sempre gostei, mas não era muito bom por conta das tarefas do dia a dia. Não tinha tempo para isso, além de ter outras distrações. Agora que passo o dia todo em casa, e praticamente todas as atividades que eu fazia estão paralisadas, tenho tempo para aprender mais sobre desenho e arte, e também tenho motivação para isso, já que é uma atividade que posso fazer em casa e estudar pelo computador”.
Arquivo Pessoal
Com a facilidade das compras online, a professora Mileni Bertholini Ferreira foi forçada a comprar itens de necessidade básica dos mercados por aplicativos na internet. Alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza são adquiridos sem a necessidade de ir ao mercado, já que há o medo de contaminação pela Covid-19.
“Aqui em Catanduva ainda não tínhamos essa facilidade, que surgiu por conta do isolamento social mesmo. Estou adorando fazer minha compras online, sem precisar me deslocar até o mercado ou me preocupar com os horários de funcionamento. Otimiza muito o meu tempo. Pretendo continuar”.
Outra ideia da professora é fazer práticas de yoga mais longas do que antes da pandemia, quando tinha que conciliar a atividade com sua rotina. “Agora, na quarentena, sem ter que sair de casa para ir ao trabalho, consigo usar esses minutos extras para fazer práticas mais longas! E tem sido muito gostoso.
Arquivo Pessoal
Após a indicação de umas meninas que segue no Instagram e o interesse por conhecer a yoga, a estudante de jornalismo Camila Moraes Camilo (foto) começou a praticar a atividade no início da quarentena e não conhecia nenhum movimento da prática. Passados pouco mais de dois meses, a yoga virou atividade diária como beber água e tomar banho na vida da jovem. 
"Tinha um desafio de 21 dias para criar o hábito da yoga na sua vida. Fiz tudo certinho e criei esse hábito. Fiquei uns três dias sem fazer e já percebi diferença no corpo, então vou continuar fazendo porque percebi que faz diferença", afirmou Camila.
A yoga também será incorporada à rotina da advogada Marina Monné de Oliveira, que começou a praticá-la apenas na pandemia. "Com a ajuda de aplicativos de celular comecei a praticar o básico e hoje já faço treinos mais avançados. A prática, além de proporcionar a ativação dos músculos, treinamento e melhoria da postura e alongamento, vem me trazendo outros benefícios como a diminuição da ansiedade, aumento do foco e relaxamento. Hoje pratico diariamente e tenho certeza que a yoga permanecerá na minha rotina após o fim do isolamento social", revelou.
Fotos: Arquivo Pessoal
Com um grande jardim no quintal de casa e tempo para realizar trabalhos manuais, a professora Vanessa Dias Pelicano tira um tempo do dia para cuidar do local. "Apesar de muito trabalho sobram algumas horas para realizar tudo em casa, então posso tirar meus minutos cuidando do jardim. Somos em três pessoas. Meu irmão colocou a grama e nos revezamos para aguar grama e árvores. Dos vasos menores eu cuido quase sozinha, ainda não sou a melhor jardineira, mas algumas plantinhas estão indo super bem". A família fez um espaço social e ajeitou o local porque queria mais verde, com frutas, horta, temperos e flores.
Acostumada a fazer videochamadas com a mãe antes mesmo da quarentena, Vanessa pretende levar o hábito para quando tudo acabar. "Começamos a fazer entre amigos, outros familiares e fez diferença nesse momento. Sabe aquela coisa de falar sempre para o amigo que mora longe: 'um dia eu vou aí te ver'. Sempre teve a opção de se ver sem sair de casa, Há anos isso acontece, mas a gente usava pouco".
Fonte: Jornal Diário da Região/São José do Rio Preto-SP.

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