Mudanças estruturais são fundamentais para manter os docentes na rede publica e atrai os jovens para o Magistério
Nos últimos meses, dois temas tomaram as manchetes dos jornais. De um lado surgiram registros cada vez mais frequentes de exoneração de professores na rede pública em diversos estados e municípios. De outro, o número de jovens interessados em ingressar em carreiras ligadas à Educação não acompanhou o aumento em outras áreas de nível superior. Em comum, essas reportagens têm o problema que retratam: a desvalorização do Magistério.
O assunto não é novo, mas vale retomá-lo e colocar luz sobre aspectos que precisam ser discutidos e modificados. O estudo Teacher Status Index, realizado este ano pela Fundação Varkey Gems em 21 países ajuda a entender onde está o problema. Os pesquisadores avaliaram o status do professor e encontraram respostas contraditórias no Brasil. Enquanto o país é o que mais confia nele como profissional capacitado a dar uma boa Educação aos alunos, menos de 20% dos entrevistados encorajariam os filhos a seguir a carreira docentes. Na China, o índice é de 50%.
As respostas mostram que o discurso da valorização da Educação, infelizmente, está dissociado da profissão de professor. Fala-se muito na importância do docente, sem que se discuta, em igual proporção, aspectos ligados a formação, carreira e condições de trabalho. Sem esse olhar atento, a escola vai pouco a pouco perdendo suas equipes.
A pesquisa Desistência e Resistência no Trabalho Docente de, de Andréa do Rocio Caldas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com professores da rede municipal de Curitiba, mostra que os fatores para o abandono da profissão são velhos conhecidos de todos: baixos salários, problemas físicos e psicológicos, infraestrutura escolar precária, violência no ambiente de trabalho, pressão e cobrança por resultados, sentimentos de desvalorização da profissão pela sociedade e falta de apoio das famílias dos alunos.
Essas questões se refletem em números. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, até agosto deste ano houve 1.283 pedidos de exoneração na rede pública - uma média de cinco por dia. Como parte de professores acumula funções, não há como afirmar precisamente quantos docentes deixaram as salas de aula, mas trata-se de um porcentual considerável. Casos semelhantes se repetem em outros estados e municípios. No Rio de Janeiro, segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, que fala em uma média de 350 ao ano. Número semelhante á apontado pela Secretaria de Estado do Paraná. Em Mato Grosso, em 2012, foram 107.
Os dados apontam para outro fator crucial: a formação docente. Estudo das fundações Victor Civita (FVC) e Carlos Chagas (FCC) mostram que muitas faculdades de Pedagogia não dão ao universitário o embasamento teórico para lidar com as diferentes etapas da aprendizagem. Já os cursos de Licenciatura estão preocupados em trabalhar o conteúdo das disciplinas e esquecem as didáticas.
Faz-se necessário, portanto, rever os currículos. Cabe à universidade formar professores que dominem os conhecimentos sobre o objeto de ensinos, a forma com que o aluno se aproxima dele e as condições didáticas e intervenções necessárias ao seu avanço. A regra vale, também, para a formação continuada. Rede e coordenação pedagógica têm de ser vistas como parceiras do docente no ofício de ensinar, não como atores que cobram resultados, sem ajudar a alcança-los.
Reflexos no ingresso na carreira
Os mesmos problemas que levam muitos educadores a mudar de área ajudam também a explicar o baixo interesse dos jovens pela profissão. Segundo o Censo da Educação Superior, o número de brasileiros que cursa o Ensino Superior vem crescendo, mas a quantidade de pessoas que ingressa em áreas ligadas à docência não aumenta na mesma proporção. De 2011 a 2012, as matrículas em cursos de graduação em geral cresceram 4,4% nas nos de Licenciatura o porcentual foi de 0,8%. Ao analisar quem conclui o nível superior, os números preocupam ainda mais. No mesmo período, o total de pessoas que terminou a Licenciatura caiu 6% no país, enquanto as outras áreas apresentaram crescimento (leia o gráfico abaixo).
Ao questionar estudantes que estudam terminando o Ensino Médio sobre o futruro, a FVC e a FCC constataram que apenas 2% indicavam graduação diretamente ligadas à escola comol primeira opção no vestibular. Os jovens reconheciam a importância do professor, mas afirmavam que a pçrofissão é desvalorizada pela sociedade e possui uma rotina desgastante e desmotrivadora. Muitos haviam chegado a essas conclusões ao observar as dificuldades que seus próprios docentes enfrentavam no dia a dia.
Além da resistência inicial, há ainda quem ingresse na Pedagogia ou faça Licenciatura sem ter a carreira de professor como foco. O estudo Atratividade do Magistério para a Educação Básica, realizado pela pesquisadora Luciana França Leme com estudantes da Universidade de São Paulo (USP), mostra que 52% dos alunos de Licenciatura em Física e 48% dos de Matemática não querem lecionar ou têm dúvidas quanto a seguir a carreira. Na Pedagogia, o índice fica em 30%. Entre os fatores que os levam a questionar a profissão está o receio de não entrar em uma escola conceituada, em que tenham autonomia para criar projetos e fazer um trabalho pelo qual sejam reconhecidos.
Voltamos, portanto, ao argumento inicial. Sem perspectivas convidativas de formação, carreira e condições de trabalho, é muito difícil reverter esse quadro. Um avanço importante está expresso no Plano Nacional de Educação (PNE), em votação no Senado Federal. O texto coloca, nas metas 15 e 16, a importância da formação inicial e continuada. Na meta 17, defende-se a equiparação salarial dos professores com outras carreiras de nível superior e, na 20, a necessidade de ampliar os investimentos na área para garantir que essas ações sejam colocadas em prática. Acompanhar e cobrar a aprovação de cada uma dessas metas é, portanto, fundamental.
Fonte: Apuração Paula Peres - Editado por Elisa Meirelles - Revista Nova Escola/ novembro de 2013
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