Já faz muito tempo que eu queria rever o gigantesco espetáculo das Cataratas do Iguaçu, com toda sua força e beleza. Com o lançamento da nova Honda XRE Sahara 300, resolvi usar a moto e percorrer os 1.200 km que separam Atibaia (SP) e Foz do Iguaçu (PR). Queria chegar na rodovia BR 469, conhecida como a Rodovia Das Cataratas, que tem seus primeiros quilômetros dentro do Parque Nacional do Iguaçu – o que seria uma ótima oportunidade para uma viagem teste.
Além de avaliar a moto na estrada, fui visitar os amigos Edgard Cotait (que me acompanhou com a sua Yamaha Lander) e o João Batista de Lima, morador de Matelândia (PR). O João tem uma Honda XRE 300. Cada um deles poderia pilotar a nova moto e também emitir a sua opinião. O trajeto conta com estrada, muito asfalto e também off-road, ideal para quem busca emitir sua opinião sobre a nova moto da Honda.
Usei a versão mais completa Adventure (a mesma que testei no lançamento em Recife, mostrada na edição 581), o modelo – tem preço praticado entre R$ 33 e R$ 39 mil. Estava também equipada com bauleto, um acessório original vendido separadamente (por R$ 600) que se mostrou útil cabendo muita roupa, tênis e outros apetrechos. Apenas a máquina fotográfica foi na mochila. Equipamentos eletrônicos não devem ser transportados em bauletos – pois a vibração pode danificar os circuitos e outros componentes sensíveis.
Mesmo saindo de Atibaia logo cedo o sol já estava forte e castigando, seriam mais de 400 km pela frente até Garça. De lá segui para Jundiaí, depois Sorocaba até atingir a Rodovia Castello Branco. Fui até o final da estrada e no trajeto pude avaliar o desempenho da Sahara. Com o limite de 120 km/h, optei por viajar no limite da moto (em alguns trechos batendo mais de 139 km/h). Nessa situação o motor (que tem potência máxima de 24,8 cv) é bastante exigido e trabalha acima dos 8.500 rpm.
Apesar da proteção do para-brisa, equipamento original na versão Adventure, a viagem se torna desgastante e cansativa. Rodei pouco mais de 230 km e a moto já entrou na reserva enquanto o computador de bordo mostrava a pior marca da viagem: 23,5 km/litro. Além do consumo elevado, o longo tempo de pilotagem – mais de 2 horas direto – cobrou no desconforto. Fiquei alternando a posição de pilotagem (em pé, sentado de lado, apoiando o pé na pedaleira do garupa...) enquanto o suor escorria por dentro da roupa da cordura. Estava no final do verão e a temperatura alta desidratava meu corpo. Deixando a Castello Branco para trás, rumei para Marília, onde encontrei o Edgard, perto das 14:30h, e fomos almoçar no Via Mineira, um lugar que vale a pena tanto pela comida quanto pelo visual, a viagem já começava a valer a pena...
Para chegar até lá, rodamos alguns quilômetros por estrada de terra repleta de pedras soltas. No começo fiquei ressabiado com medo de perder o controle da Sahara, mas o passar dos quilômetros trouxe a confiança necessária e acelerei para brincar nas elevações da estrada que é um verdadeiro parque de diversões.
Num determinado trecho, “dei de frente” com um caminhão transportando cana e os freios foram necessários, a frenagem foi rápida e eficiente, sem sustos ou derrapagens desnecessárias. Aliás, o sistema ABS já se mostrava um dos grandes trunfos na XRE e se manteve na mesma linha: segura a moto em curtos espaços e permite manter total controle. Mas esse não foi o único susto da viagem... Ainda teremos o capítulo canino...
Chegando em Garça fomos conhecer o mecânico Marcelo que deu uma volta da Sahara para “matar a curiosidade”. Por falar em curiosidade, ainda tive a chance de conhecer a coleção do Mário Zapata, um acervo repleto de modelos raros. Além das motos, as histórias do Mário valem a visita. Só para você ter uma ideia, no quintal da casa temos um Globo da Morte... Era o final do primeiro dia e, na manhã seguinte tínhamos pela frente uma jornada de quase 700 km até Matelândia (PR)...
Após atravessar a ponte sobre o Rio Paranapanema, na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, a força da agricultura paranaense desfila na viseira do capacete. Plantações de milho feijão, soja, cana a perder de vista se misturam ao céu azul e sem nuvens no horizonte. As enormes e potentes carretas foram nossas companheiras em todo o percurso. Nas pistas simples elas exigem muita atenção do motociclista para não se colocar em situação de risco. Tanto a Sahara como a Lander têm motor de sobra para ultrapassar sem sustos, bastava calcular e acelerar para superar as carretas de até 9 eixos, comuns na região.
Com apenas três paradas e abastecimentos percorremos o trecho que se mostrou mais desagradável na região de Maringá onde o viajante convive com trânsito travado, buracos e semáforos, some a isso o enorme calor e temos um grande cansaço. Por sorte encontramos um vendedor de fruta à beira da estrada e fizemos aquela parada estratégica com sombra, uvas e água fresca. Já refeitos voltamos para a estrada rumo ao Oeste. Quase no final do dia, com o sol se pondo no Horizonte, chegamos na simpática Matelândia. Nosso nosso amigo João Batista de Lima (e sua esposa Eliete) nos aguardavam de portas abertas.
Os mais valentes podem fazer um tour de barco até a base das cachoeiras (Safari Macuco R$ 386) ou um passeio de helicóptero (R$ 610) para ver as cachoeiras lá de cima. Claro que tudo depende do seu tempo, gosto e bolso...
O dia passou voando e voltamos para Matelândia, alternando a pilotagem das motos. Lembrei bastante da minha Lander (aquela do modelo antigo) e seu motor eficiente, robusto e econômico. Depois ouvi a opinião do Edgard sobre a Sahara e concordei com ele (leia box).
O piso era bem diferente da região de Garça. Pedras pontudas surgiam em meio a terra vermelha que exigiam um certo cuidado na escolha do caminho. Contando com rodas de aro 21 na dianteira e pneu Metzeler Karoo 90/90 consegui vencer os obstáculos enquanto ouvia a pancadas das pedras no protetor de motor e o curso de suspensão dianteiro de 245 mm tornava a missão de chegar ao Morro do Espigão do Norte bastante tranquila.
Em determinado momento a dianteira saiu de frente e achei que cairia. Estava tranquilo em relação ao tanque e a carenagem (por conta do protetor) mas confesso que senti falta do protetor de mão e manete com “picote” para que, em caso de queda, se rompa e não danifique o reservatório do fluido de freio. Outra critica vai para a ausência de sanfona de proteção das bengalas da suspensão. Se eu comprasse uma Sahara, investiria nesses componentes...
“Vamos descer rápido, esse tipo de tempestade traz raios e granizo” disse o João que acelerou forte no caminho de volta. Chegamos à cidade em meio a poeira levantada pelo vento e sentindo a forte queda de temperatura. Mais uma vez fiquei confiante no conjunto ciclístico da Sahara, principalmente os freios.
Na manhã seguinte tomamos café com nossos anfitriões e partimos de volta para Garça. Dessa vez experimentamos o conselho do João e parávamos de hora em hora, a viagem demorou mais – cerca de 12 horas – mas chegamos descansados e com um menor consumo de combustível (veja box abastecimento).
No dia seguinte, fiz o trajeto solitário para a minha casa e, numa estrada tranquila em Duartina levei o maior susto da viagem. Um cachorro pequeno, com coleira, entrou correndo na estrada e cravei a mão no freio. Imediatamente o sistema ABS entrou em ação, enquanto a moto perdia velocidade, tive tempo de avaliar qual seria a atitude do cachorro. Por sorte ele parou, olhou com aquela cara de pouco caso e voltou para a calçada... Senti muita raiva dos donos do cachorro que olhavam sem reação, eu poderia ter atropelado o cachorro e caído. Mesmo dentro do limite 60 km/h, um tombo sempre pode ter sérias consequências...
Chegando em Sorocaba o vento deu lugar à chuva e, para fechar a viagem, parei na estrada, vesti a capa e segui para Atibaia. Estava tranquilo por concluir mais essa viagem-teste e ouvir outros motociclistas que tiveram a mesma opinião sobre a Sahara: é um produto moderno e adequado para uso urbano que também pode ser usado em longas viagens. Depois de 2.500 km rodados com ela eu posso afirmar isso, com tranquilidade.
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